Franklin de Freitas – Lixo eletrônico se transforma em oportunidades

Sabe aquele computador ou monitor antigo que você tem em casa e já nem usa mais? Ele pode servir para transformar vidas e gerar esperança. Isso porque, em Curitiba, existe um projeto chamado Tech Girls, que recupera computadores que seriam descartados e os transforma em equipamento de trabalho para mulheres em situação de vulnerabilidade social, ajudando na capacitação delas na área de tecnologia.

Criado em 2017 pela desenvolvedora de software e educadora digital Gisele Lasserre, o projeto conta com metodologia própria para tornar acessível o conhecimento em tecnologia, auxiliando na criação de negócios digitais e no acesso ao mercado de trabalho em TI. Com isso, já contribuiu para transformar diretamente a vida de 480 mulheres, promovendo ainda um impacto positivo em centenas de famílias e comunidades da Região Metropolitana de Curitiba.

Tudo teve início em 2014, quando Lasserre, que atuava na área de comunicação, resolveu migrar para o mercado da tecnologia, formando-se em gestão de tecnologia da informação. Na faculdade, notou que a presença feminina era diminuta, bem como o acolhimento da própria turma e mesmo a metodologia de ensino pareciam não contemplar o sexo feminino.

Ao se formar em 2017, então, deixou São Paulo e retornou para sua cidade natal, Curitiba, pensando em contribuir de alguma forma com a cidade, as pessoas e, especialmente, as mulheres. Assim surgiu o Tech Girls, que desde sua criação tem como objetivo capacitar e incluir mulheres no mercado de trabalho em tecnologia, com cursos como o de arte com peças de lixo eletrônico (que serve como uma espécie de introdução ao mundo da tecnologia, ajudando-as a ter familiaridade com o meio tecnológico e também as capacitando para o empreendedorismo digital.

Para que possam vender suas obras pela internet), o curso de manutenção de computadores e também o curso de manutenção de celulares, entre outros.

Inicialmente, no entanto, o próprio projeto tratava de levar toda a estrutura necessária para que as mulheres aprendessem, fazendo salas de informática nos locais onde os cursos seriam ofertados. Com a pandemia, no entanto, um problema acabou ficando evidente diante da necessidade de os estudos continuarem com o ensino remoto: uma grande parte das participantes não possuía um computador em casa para poder acompanhar as aulas online. A solução, então, foi inovar. E inovar de forma sustentável.

“Notamos a ausência de computador e aí entregamos ao programa a questão de arrecadar equipamentos obsoletos, formatá-los e fazer uma manutenção para as alunas receberem essa capacitação”, conta Lasserre, citando ainda que a novidade implementada pelo programa acabou, até mesmo, ampliando o impacto transformador da iniciativa. “Muitas vezes o equipamento que doamos é o único que tem na casa, aí contribui para as aulas online dos filhos, atende ao marido que faz serviços de mão de obra, faz pesquisa de peças, coisas desse tipo. E elas se sentem motivadas até a seguir outros cursos, para poderem lapidar suas carreiras, seus negócios”, complementa.

Portas que se abrem: ‘Nunca me imaginei trabalhando com tecnologia’

Hoje com 49 anos, Simoni Aparecida Uaska trabalhava até pouco tempo com a restauração de móveis antigos, um ofício que acabou se tornando muito pesado para ela, que resolveu mudar de área. Foi quando conheceu o Tech Girls e começou a fazer os cursos ofertados pelo projeto. Acabou gostando da área e se destacando tanto que agora começará a ajudar outras mulheres que ingressam no curso ofertado pelo projeto de manutenção de computador, ao mesmo tempo em que segue seus estudos na área de manutenção de celulares.

“Eu não tinha noção nenhuma de harware e nunca tinha me imagino trabalhando com tecnologia. Trabalhei anos com restauração de móveis antigos, mas se tornou um trabalho muito pesado para mim e resolvi mudar de área. Mas não sabia para que lado ir já estava sem recursos também. O Tech Girls abriu uma porta para mim”, conta ela, explicando que pretende não só trabalhar na área de manutenção, mas também em projetos sociais. “Quero estar ajudando, impactando na vida de pessoas. Pretendo continuar [no Tech Girls]”.

De Curitiba para outros cantos

Criado em 2017, o Tech Girls começou atendendo mulheres ligadas à Associação Beneficente São Roque, em Piraquara. Hoje, além do município metropolitano, o projeto também atende mulheres de diversas localidades de Curitiba e também está presente em Samambaia, uma região administrativa do Distrito Federal, com atuação através da ONG Mães do Serrado. Para o ano que vem, conta ainda Gisele Lasserre, a expectativa é levar a iniciativa para ainda mais localidades.

“Estamos com parceria junto ao Favela 3D, que atuam em 13 mil favelas, e em 2022 vamos começar a replicar o Tech GIrls juntamente com eles para fazer esse projeto crescer”, comemora Lasserre. Criado pela ONG Gerando Falcões, o favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida) procura interromper o ciclo de pobreza social, numa iniciativa multissetorial que procura dar autonomia social e financeira à regiões favelizadas. O projeto piloto, na Vila Itália, em São José do Rio Preto (SP), já começou a ser implementado e a ideia, no médio e longo prazo, e replicar a iniciativa Brasil afora, ajudando os 14 milhões de brasileiros que vivem nas mais de 13 mil favelas espalhadas pelo país.

SERVIÇO

Tech Girls

O que é: um projeto criado em Curitiba que recolhe o que se tornaria lixo eletrônico em ferramenta de trabalho para mulheres em situação de vulnerabilidade social, ofertando ainda capacitação na área tecnológica para essas pessoas.

Como funciona: O projeto oferece cursos que ajudam mulheres de perfis diversos a empreender no comércio digital ou mesmo mudar de profissão, .

Como ajudar: É possível contribuir com as Tech Girls de diversas formas. Uma delas é realizando doações financeiras. Outra é doar seu tempo, atuando como voluntário em áreas diversas (elaboração de conteúdos para aulas; apresentação e gravação de vídeo-aula; retirada de equipamentos doados por terceiros; etc). E ainda dá para ajudar, também, doando equipamentos obsoletos (celulares, notebooks, computadores). Para mais informações, acesse o site do projeto.

Site oficial: www.techgirls.com.br

Redes sociais: @TechGirlsBrasil