De forma antagônica à retórica de fim de crise, as estatísticas econômicas disponíveis permanecem a transportar a inércia dos impactos da instabilidade financeira global no Brasil. A produção industrial encolheu 13,9% entre janeiro e maio de 2009, em relação aos cinco primeiros meses de 2008, determinada pelas acentuadas quedas verificadas em bens de capital (-22,7%), bens de consumo duráveis (-20,5%) e bens intermediários (-16,7%). Em tais segmentos, a combinação entre o ambiente de incertezas quanto ao futuro em curto e médio prazo, a escassez (e encarecimento) do crédito e a brusca e pronunciada retração da demanda externa, estria na raiz dos resultados desfavoráveis.
Os casos mais gritantes de decréscimo dos níveis de produção ocorreram em equipamentos para extração mineral e construção (61,0%), material elétrico e de comunicações (-41,2%), tratores e máquinas e equipamentos agrícolas (-33,3%), ferro gusa (-40,7%), minerais ferrosos (-35,4%), máquinas e equipamentos (-29,2%), veículos (-24,7%).
Os ramos menos afetados pela instabilidade foram aqueles dedicados à produção de bens de consumo não duráveis e semi duráveis (-2,8%), em razão da natureza inelástica do consumo em relação a renda, da preservação e ampliação da base de recursos dos programas oficiais de transferência de renda (especialmente o Bolsa Família e o seguro desemprego). Ainda assim, a fabricação de carnes caiu 4,6% por conta da diminuição das exportações.
O volume produzido de veículos diminuiu 13,6% e os licenciamentos, termômetro da quantidade comercializada no mercado doméstico, cresceu 3,0%, como efeito da desova de estoques associada ao movimento de antecipação de compras pelos consumidores, especialmente nos meses de março e junho, ocasião de exacerbação das incertezas quanto ao prosseguimento dos incentivos fiscais baseados na isenção e/ou redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O benefício fiscal foi prorrogado, com retirada gradual, até dezembro de 2009.
Tanto que, conforme estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a desoneração fiscal teria influenciado decisivamente a comercialização de cerca de 20,0% dos 1,45 milhão de veículos vendidos no período. Ademais, no final de junho, os estoques de veículos correspondiam a 18 dias de vendas, o menor patamar desde dezembro de 2007 (17 dias).
Especificamente a indústria paulista encerrou 54.500 postos de trabalho nos primeiros seis meses de 2009, o que significou declínio de 2,41% no contingente empregado em confronto com o mesmo período de 2008, de acordo com levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em volume, trata-se do maior corte semestral desde 1995, ano de início da pesquisa. Além disso, junho representou o 9º mês consecutivo de diminuição do emprego no parque fabril operante em São Paulo.
Gilmar Mendes Lourenço é Economista, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas e Editor da Revista “Vitrine da Conjuntura” da FAE Centro Universitário, e Conselheiro do CORECON-PR. Ele escreve às Quartas-Feiras neste espaço.