Acumulam-se distorções estruturais à expansão e diversificação mais abrangente da base econômica do País, notadamente do setor industrial. A esse respeito, seria prudente mencionar um levantamento da companhia KPMG acerca das principais despesas incorridas para a realização de negócios em 14 países (avançados e emergentes), abarcando os segmentos da indústria de transformação, pesquisa e desenvolvimento, tecnologia da informação e serviços.
Naquele trabalho, o Brasil aparece na 5ª posição na classificação das nações com menores custos, à frente das economias avançadas do Reino Unido, Holanda, Canadá, França, Itália, Alemanha, Austrália, Japão e EUA (referência). No entanto, apesar de ostentar dispêndios de produção 7,0% inferiores aos dos EUA, a atividade econômica seria mais cara no País quando confrontada com a de alguns emergentes como China (25,8% mais barata que os EUA), Índia (25,3%), México (21,0%) e Rússia (19,7%).
Em perspectiva pior, conforme investigação anual feita pelo International Institute for Management Development (IMD), o Brasil figura em 46º lugar em um ranking de competitividade, preparado a partir de uma amostra de 59 nações, caindo duas e seis posições em relação a 2011 (44º) e 2010 (38º), respectivamente, devido às conhecidas fragilidades provocadas por câmbio apreciado, carga tributária elevada, gargalos infraestruturais, insuficientes investimentos em ciência e tecnologia, dentre outras. As melhores performances competitivas ficam por conta de Hong Kong, Estados Unidos, Suíça, Cingapura, Suécia, Canadá, Taiwan, Noruega e Alemanha.   
Para complicar, a limpeza desse terreno vem sendo organizada e realizada de forma pouco ousada e demorada pelas autoridades econômicas. A iniciativa de reedição do Programa Brasil Maior, em abril de 2012, por parte do executivo federal, consistiu em mais um pacote composto fundamentalmente por providências parciais, de fôlego limitado, centradas na ampliação das desonerações de impostos, dos estímulos às exportações e da oferta de crédito subsidiado via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Do conjunto de vantagens fiscais e financeiras anunciado, que perfaz R$ 60,4 bilhões, ou 1,5% do PIB, as novidades relevantes, em relação ao plano divulgado em 2011, englobam o alargamento da desoneração da folha de pagamento, antes restrita a 4 ramos, sendo três intensivos em fator trabalho, para 15 atividades. Concretamente, será substituído o recolhimento patronal de 20,0% para a previdência pela cobrança de uma alíquota de 1,0% a 2,0% sobre o faturamento das empresas, fora a parcela destinada às exportações.
A renúncia fiscal embutida nessa ação, projetada em mais de 7,0 bilhões/ano, poderá ser abrandada pela incidência adicional da alíquota do Pis/Cofins sobre as importações, equivalente à aplicada nos segmentos desonerados, e pela arrecadação extra do IPI de bebidas.
Houve também a zeragem do Pis/Cofins (antes de 9,65%) e diminuição do IPI (de 15,0% para 3,0%) para as operações ligadas ao Plano Nacional de Banda Larga, e o incremento dos recursos do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) de R$ 1,3 bilhão para R$ 3,1 bilhões, compensando os cortes orçamentários anteriores, e do BNDES em R$ 45,0 bilhões, incluindo a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) até 2013, com repasses previstos de R$ 6,5 bilhões.
Como se vê, tanto a concepção da estratégia quanto a designação das medidas estão desatreladas de uma visão de busca de eficiência industrial e tecnológica de longo prazo. A exceção repousa no regime de benesses fiscais ao segmento automotivo, oferecido em troca do cumprimento de metas tangíveis de inversões em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e de ampliação da contribuição de partes, peças e componentes nacionais até o ano de 2017.
No campo conjuntural, em linha com a desaceleração da inflação e a flagrante letargia da atividade industrial – consequência do emprego dos juros elevados e das medidas macroprudenciais entre outubro de 2010 e julho de 2011 – , o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promoveu novas diminuições da taxa selic, nos encontros de abril e de maio de 2012, de 9,75% a.a. para 9,0% a.a. e 8,5% a.a.
Com isso, a taxa básica do País ficou abaixo do piso histórico de 8,75% a.a., registrado entre julho de 2009 e abril de 2010 – por ocasião da tentativa de mitigação dos desdobramentos do primeiro tempo da crise financeira externa e de recuperação da demanda doméstica brasileira – e constituindo a menor taxa real da história recente (3,3% a.a.), cedendo a liderança no mundo para a Rússia (4,2% a.a.). Lembre-se que o recuo foi de 4,0 pontos percentuais desde agosto de 2011, quando a selic situava-se em 12,5% a.a..
No entanto, a variação de apenas 2,7% do PIB em 2011 e de 1,9% no indicador acumulado em doze meses encerrados em março de 2012, além da contração dos níveis de produção industrial de –2,8% nos primeiros quatro meses de 2012, influenciada por bens de consumo duráveis (-10,3%) e bens de capital (-9,8%), demonstram que os estímulos oficiais ainda não atingiram o lado real da economia.

Gilmar Mendes Lourenço, é economista, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), professor do Curso de Economia e Editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE e autor do livro Conjuntura Econômica: Modelo de Compreensão para Executivos. Foi eleito O Economista Paranaense do Ano de 2011 pelo CORECON/PR e vencedor do Prêmio Imprensa e Quality TV & Jornais em novembro de 2011. Ele escreve às quartas-feiras neste espaço