Paulo Gustavo tem a maior cara de pau. “Por quê?”, ele pergunta. Numa cena de Minha Mãe É Uma Peça 2, Dona Hermínia pega o avião, senta-se ao lado de um bonitão e lhe diz… Olha o spoiler. O bonitão é o marido de Paulo Gustavo, Thales Bretas. “Estou casadíssimo, papel passado e tudo”, ele diz. Não foi fácil convencer o companheiro, um dermato conhecido e respeitado na profissão. Mas é impossível ser cara metade de Paulo Gustavo sem aceitar esses desafios numa boa. Paulo conversa com o repórter numa sexta-feira à noite, na plateia do teatro do Leblon onde, daqui a pouco, apresenta Online. A peça está sendo um estouro. “Ponho 5 mil pessoas aqui todo fim de semana”, diz.

Hoje, estreia Minha Mãe É Uma Peça 2. Serão mil salas em todo o Brasil — mil! Mais tarde, o repórter encontra na plateia o distribuidor Bruno Wainer, da Downtown, e ele diz que a ideia é manter o circuito até meados de janeiro, quando entram os lançamentos do Oscar. Wainer está mais tranquilo que Paulo — “É uma grande aposta, mas partimos do princípio de que Paulo Gustavo é o que o público quer ver”. Paulo Gustavo pode ser um grande sucesso, mas é também um operário. “Gosto do trabalho artesanal, de fazer bem-feito, elaborado, e para isso é preciso tempo. Participo de todas as etapas. Invento o tema, participo do roteiro, faço tudo.”

A família está, de novo, no centro de Minha Mãe 2. “Todo mundo tem (família). É o tipo da coisa que a gente esculhamba, mas não vive sem.” Paulo Gustavo reflete sobre a peculiaridade de sua trajetória. “Fiquei famoso e ninguém nem sabia quem eu era, porque era a Dona Hermínia. Minha mãe ficou conhecida antes que eu”, brinca. A própria Dona Hermínia real – Dona Déa — está na plateia do teatro. Todo mundo quer fazer selfie, ela tem de dar um basta — “Vamos fazer depois, já vai começar”.

Na plateia também está Teuda Bara, a mítica atriz do Grupo Galpão, de Minas Paulo Gustavo conta — “Estou saindo em definitivo do Vai Que Cola. Já tenho dois episódios do que será o próximo programa no Multishow, A Vila. É sobre um palhaço abandonado numa cidadezinha e que, a cada semana, contracena com um habitante local, ou com alguém de passagem. É muito engraçado, com um toque de nostalgia. A Teuda faz a dona da pensão. Vai contracenar em todos os episódios comigo.”

A grande atriz está encantada — “É uma coisa que nunca fiz antes E o Paulo tem sempre mil ideias para ver qual vai funcionar mais.” É o tema de Online, aliás, a peça não tem tema. Paulo entra no palco. O cenário representa a cidade. Ele recita um poema, começa um tiroteio e o restante é a roda viva. Uma coisa puxa a outra — delegacia, hospital, farmácia, cartomante etc. Quando tudo se acalma e ele vai recitar de novo — seu espetáculo ‘sério’ —, a assistente entra dizendo que acabou. Como assim – acabou? “É, sim, 1h10, temos de desocupar o teatro.” A plateia morre de rir com a metralhadora que dispara piadas para todos os lados. O título não nega — Online. Está todo mundo, em cena, ligado nas redes sociais.

“Fico até o carnaval e, em março, vou com o Online para São Paulo”, ele anuncia. Como tudo que Paulo faz, o espetáculo é mmuuuito incorreto. E isso aumenta sua responsabilidade — “Anda todo mundo muito radical. Qualquer coisinha gera polêmica. E não é porque o humor é ácido que tem de ser preconceituoso. Acho legal tocar em assuntos delicados, fazer as pessoas refletirem por meio do riso, mas é preciso cuidado, porque senão a gente vira a pessoa mais preconceituosa do mundo.”

No filme, as confusões de Dona Hermínia começam quando Marcelina decide seguir a carreira de atriz, e Juliano (que se declarou gay no primeiro filme) resolve assumir uma namorada. Além de ter de lidar com os filhos, seu ex-marido, Carlos Alberto (Herson Capri), arruma uma nova namorada, bela e jovem. A personagem ainda recebe a visita inesperada da irmã Lucia Helena (Patricya Travassos), que vive nos Estados Unidos e agita ainda mais a rotina da casa.

Acho que a energia do filme e dos personagens tem muito a ver com a minha família. É todo mundo espirituoso, fala alto, conversa com todo mundo na rua. Não é à toa que o filme faz sucesso, porque isso não é só na minha casa. É a história de uma família comum, diz Gustavo.

Para o ator Rodrigo Pandolfo, o Juliano, o brasileiro se identifica facilmente com o filme. Ele retrata a identidade da família brasileira com esse jeito latino de discutir, falar alto, fala da mãe divorciada que cria seus filhos sozinha, diz.

Juliano, aliás, dá um nó na cabeça de Dona Hermínia quando arruma uma namorada, apesar de ser homossexual. Ela demorou a entender a identidade gay dele, e agora ele vem dizer que é bissexual e começa tudo de novo.