Antes do encontro com Marc Webb na sala de edição, o tour. A Sony convidou um reduzido grupo de jornalistas de todo o mundo para visitar a ilha de edição de O Espetacular Homem-Aranha 2. O filme que estreia em 1º de maio ainda estava em plena gestação e o diretor Webb tinha apenas 20 minutos de filme pronto para mostrar. Cenas pontuais: a do avião no começo, que no filme pronto engata com o voo do herói sobre a cidade; o diálogo entre Andrew Garfield e Emma Stone que precede o confronto com Electro em Times Square; e justamente o pandemônio que a nêmesis de Spider Man cria no centro de Manhattan.

Os 20 minutos foram preciosos — reatam com o espírito teen de 500 Dias com Ela, o longa que deu projeção a Marc Webb e sinalizou para os produtores que ele poderia ser o homem para retomar a franquia. Mas andar nas vias internas do estúdio, olhando para o refeitório, as lojinhas, com todos aqueles cartazes de clássicos proporciona ao cinéfilo uma inigualável viagem no tempo. Mas o tema é o Homem-Aranha, e Marc Webb, acompanhado pelo ‘chief’ montador, Pietro Scalia, vai logo dizendo por que retoma no começo o acidente aéreo que mata os pais de Peter Parker.

“Quando assumi o primeiro filme, tudo teve de ser feito rapidamente. Não renego nada no meu primeiro Spider Man, mas com certeza teria feito coisas diferentes, se tivesse tido mais tempo. É o que estamos fazendo agora. Esse filme foi mais pensado que o primeiro e a ideia é que seja mais prazeroso para o público. Começo com a tragédia, prossigo com a euforia de Peter ao desfrutar seus superpoderes, e no desfecho temos nova tragédia. É a trajetória do herói rumo ao amadurecimento. Peter gosta de ser herói, mas é uma tarefa pesada e, no final, ele duvida de que vá conseguir prosseguir. Mas algo ocorre, e eu não vou contar, para devolvê-lo às ruas”, resume o diretor.

Quando entrevistou Sam Raimi, diretor da trilogia anterior do Homem-Aranha, o repórter ouviu dele que ainda bem que a tecnologia está sempre em desenvolvimento, e aprimoramento, porque simplesmente não conseguiu fazer coisas em seu primeiro filme com Tobey Maguire. Só conseguiu concretizá-las no 3. “Entendo o que Sam estava querendo dizer. Analisando O Espetacular Homem-Aranha, conseguimos aprimorar várias coisas para o 2. A própria sensação de voar com ele é mais real. A perspectiva é uma coisa que não cessa de evoluir graças à tecnologia digital de ponta”, esclarece Webb.

Para ele, o 2 estabelece um parâmetro importante. “Temos um vilão, que não é o vilão, e por isso eu quis um grande ator como Jamie (Foxx) no papel, porque ele poderia compreender e expressar as sutilezas do que pretendia dizer. Max é patético, e quando as circunstâncias lhe conferem os poderes que o igualam ao Homem-Aranha, ele parte para a desforra. Mas o verdadeiro vilão é a Oscorp, no alto daquele prédio. O poder das corporações – de lá vão sair os tentáculos que se agigantam sobre a cidade no 2, no 3… O primeiro foi feito mais ou menos independente. Aqui, já estamos construindo o 3, que, de alguma forma, será mais sombrio, face ao que ocorre com Peter Parker.”

Em 500 Dias com Ela, Marc Webb contou a velha história do boy meets girl. Joseph Gordson-Levitt conhece e se apaixona por Zoe Deschanel, mas o amor é eterno só enquanto dura, como diria o poeta Vinicius de Moraes, e ele entra em crise quando o amor termina, até descobrir que não é o fim do mundo. A evolução de Peter Parker/Homem-Aranha no novo filme não é diferente. Uma das cenas que o repórter viu na ilha de edição é a do diálogo entre Peter e Gwen Stacy, logo após a ruptura de ambos na formatura. São apaixonados, mas, ao olhar para Gwen, Peter vê o pai dela, o policial que lhe pedia que se afastasse da filha porque o Homem-Aranha tem muitos inimigos e Gwen, ao lado dele, estaria sempre em perigo.

É o diálogo de jovens apaixonados, e separados pelas circunstâncias. Viver é assumir riscos, Gwen insiste. O repórter elogia a delicadeza da cena que, naquele momento, estava vendo descontextualizada – e ela cresce no filme pronto. Marc Webb diz – “Não vou banalizar falando em desafio, mas o desafio, ou o bom de um filme como esse é que você tem o grande espetáculo, as cenas que têm de encher os olhos e carregar na adrenalina, tem os efeitos, tem tudo, mas tem uma história que, no fundo, é muito intimista. O garoto com a namorada, com a mãe, no caso, a tia Macy. Sou um privilegiado porque, para criar esse tom de ‘menos’, tenho atores como Andrew (Garfield), Emma (Stone), Sally (Field), que me entregam personagens verdadeiros.” Criado por Stan Lee (com Steve Ditko) em 1962, Spider Man virou um dos heróis emblemáticos da Marvel. Tem gente que jura que é o mais. Stan Lee aparece, como sempre. “Ele adora sua criação. Mantém a alma jovem como Peter Parker.”


PING PONG COM OS PERSONAGENS

O HERÓI

Como está sendo sua volta a Peter Parker/Homem-Aranha?
Andrew Garfield — Acho que está sendo o sonho de qualquer ator, porque, ao mesmo tempo em que me divirto, e já era fã da HQ, tenho um material consistente para trabalhar. O personagem tem o que se chama de curva dramática. Tem uma história, uma evolução. Mas, ao mesmo tempo que existe todo o lado heroico, ele permanece um garoto inseguro, apaixonado. É duro ser o Homem-Aranha. Existem várias cenas que expressam esse peso. Há a dor de se sentir rejeitado pelos pais. E há o amor que ele sente por Gwen, mas sabe que poderá prejudicá-la. O que quero dizer é que ele não é unidimensional. Permanece humano, e isso faz dele uma figura complexa.

Como é a preparação física para o papel?
Garfiel — Esse é outro aspecto da questão. Basicamente, todo o treinamento pelo qual eu passei é para aumentar a elasticidade. Dieta, exercícios. O objetivo não é criar massa física, músculos. É importante que permaneça franzino. Tenho a impressão de que, desde que comecei nesse negócio de Homem-Aranha, tenho passado mais tempo com o meu instrutor do que com qualquer outra pessoa.

O que você acha do vilão?
Garfield — Do personagem ou do ator? Max/Electro não é o vilão. É vítima das circunstâncias, e Jamie (Foxx) o cria de forma emocionante.

Como você convive com a celebridade que o Homem-Aranha lhe proporciona?
Garfield — A celebridade é ele, não eu. Passo despercebido na rua, e espero seguir assim.


O VILÃO

Depois de um grande filme popular como o Django de Quentin Tarantino, o vilão de uma franquia também popular. O que havia de interessante no papel para atraí-lo?
Jamie Foxx — Em primeiro lugar, eu queria dar uma de bom pai. Minha filha é louca pelo Homem-Aranha. Fez uma festa de aniversário temática e foi lá, como presente, que eu lhe disse que ia fazer Electro. Ela vibrou, mas também ficou preocupada. Queria saber se eu ia apanhar muito… Mas não foi só isso, claro. Max, antes de virar Electro, é um dos personagens mais tristes que já criei. Vive sozinho, sem a atenção de ninguém, traído pela Oscorp, que se apossou de seus projetos. Quando o Homem-Aranha o salva, acha que encontrou um amigo, mas se decepciona com ele.
Quando vira Electro e não sabe o que está ocorrendo, vê seu rosto projetado nas telas gigantescas em Times Square e algo se passa na sua cabeça. Virar Electro lhe dá uma identidade, lhe permite romper o anonimato.

Um personagem assim é muito diferente de Ray Charles, que lhe valeu o Oscar?
Fox — Diferente em que sentido? A diferença diz respeito à essência, à natureza de cada um, mas embora Homem-Aranha seja ‘amazing’ (espetacular) a aproximação minha, como ator, é a mesma. O jeito como interpreto um personagem tem sempre como objetivo servir ao filme e ao papel, mas se você quer saber se me empenhei mais em Ray, ou se achava que era mais sério, não é por aí. Seria desonesto comigo e com o público.