A comissĂ£o de juristas que formula uma proposta de reforma para o CĂ³digo Penal brasileiro aprovou hoje (21) mudanças na lei que trata de crimes contra a humanidade. A ideia do grupo – formado por advogados, juĂ­zes, promotores e defensores pĂºblicos – Ă© incluir no novo cĂ³digo um capĂ­tulo exclusivo para tratar do tema.

A proposta aprovada hoje prevĂª mudanças na lei atual, que data de 1956. Os juristas ampliaram, por exemplo, as tipificações do crime de genocĂ­dio, incluindo como possibilidade o genocĂ­dio provocado por gĂªnero, lĂ­ngua ou etnia. A proposta se baseia em experiĂªncias que aconteceram em todo o mundo apĂ³s a criaĂ§Ă£o do Estatuto de Roma, do qual o Brasil Ă© signatĂ¡rio e que moldou a lei do sĂ©culo 20, que vale atualmente.

AtĂ© 1956, o crime de genocĂ­dio era previsto apenas por raça, cor ou religiĂ£o. SĂ³ que, nesses 50 anos, o genocĂ­dio mostrou que nem sempre ele acontece por esses fatores. Temos o caso de Ruanda, em que se tratava de pessoas da mesma raça e religiĂ£o. EntĂ£o, fizemos uma atualizaĂ§Ă£o incluindo essas outras possibilidades, explicou o relator da comissĂ£o, o procurador regional da RepĂºblica, Luiz Carlos dos Santos Gonçalves.

AlĂ©m do genocĂ­dio, tambĂ©m foram incluĂ­dos ou modificados os trechos da lei que tratam de outros crimes contra a humanidade, tais como escravidĂ£o, extermĂ­nio, tortura provocada contra um grupo de pessoas em razĂ£o dele e a versĂ£o forçada da prostituiĂ§Ă£o, gravidez ou esterilizaĂ§Ă£o. TambĂ©m foi criado um novo tipo de crime prevendo a transgenerizaĂ§Ă£o forçada, ou seja, a mudança forçada de gĂªnero.

De acordo com o advogado Nabor Bulhões, que conduziu a reuniĂ£o da comissĂ£o nesta segunda na ausĂªncia do presidente, ministro Gilson Dipp, a previsĂ£o desses tipos penais no CĂ³digo Penal brasileiro Ă© importante para que eles possam ser julgados dentro do paĂ­s, caso ocorram. Isto tem uma significaĂ§Ă£o muito grande porque se o Brasil nĂ£o positivar uma lei prĂ³pria, como ele Ă© signatĂ¡rio do Estatuto de Roma, fica submetido direto ao Tribunal Penal Internacional, explicou.

A comissĂ£o tem atĂ© o dia 25 de maio para entregar o relatĂ³rio final, contendo todas as propostas discutidas com vistas Ă  elaboraĂ§Ă£o do novo CĂ³digo Penal. O relator, no entanto, jĂ¡ pediu ao Senado a extensĂ£o do prazo por mais 30 dias para que os integrantes da comissĂ£o tenham tempo de discutir propostas que estĂ£o pendentes.

Pela manhĂ£, a comissĂ£o aprovou propostas de mudanças para os crimes cibernĂ©ticos e tratou de questões espinhosas como a descriminalizaĂ§Ă£o do aborto atĂ© a dĂ©cima segunda semana de gestaĂ§Ă£o e em casos de anencefalia. Na prĂ³xima reuniĂ£o, ainda esta semana, eles irĂ£o discutir o tempo de prescriĂ§Ă£o dos crimes.

Depois que a proposta da comissĂ£o de juristas for concluĂ­da, ela serĂ¡ transformada em projetos de lei ou propostas de emenda Ă  ConstituiĂ§Ă£o, que tramitarĂ£o pelo Senado e pela CĂ¢mara dos Deputados, onde ainda poderĂ£o ser modificados.