Superando as previsões, mais de 1 milhão de peregrinos e fiéis, procedentes de várias partes do mundo, lotaram neste domingo (1º) a cidade de Roma para assistir à cerimônia de beatificação do papa João Paulo II na Praça de São Pedro, de acordo com o porta voz do Vaticano, citando fontes da Secretaria de Segurança de Roma.
Devido à pressão dos peregrinos, a polícia italiana foi obrigada a abrir as cancelas que dão acesso à Praça de São Pedro quatro horas antes do previsto. Milhares de pessoas não puderam chegar ao local e tiveram que se dirigir para outras áreas da cidade, onde foram instalados telões, para acompanhar acerimônia.
Agora os fiéis fazem fila para venerar os restos mortais do papa, na Basílica de São Pedro, no Vaticano. O caixão, que não foi aberto, está exposto perante o altar da Confissão. Sobre ele foi colocada uma cópia do Evangelho de Lorsch, aberto e apoiado em um coxim tecido com decoração de ouro, além de uma coroa de flores com as cores oficiais da bandeira vaticana, amarela e branca.
A Guarda Suíça é responsável por guardar o caixão de Karol Wojtyla, que foi proclamado beato em cerimônia solene neste domingo pelo papa Bento 16, provocando uma profunda emoção em mais de um milhão de fiéis que assistiram ao ato. Os fiéis começaram a visitar o caixão às 13h16 (8h16 de Brasília) e está previsto que possam fazê-lo até às 19h desta segunda-feira (14h em Brasília), quando serão fechados os portões da Basílica.
Do Brasil — Um grupo de brasileiros do Distrito Federal chegou às 4h da manhã para pegar um bom lugar próximo à Praça de São Pedro. Mesmo não estando muito próximos, ficaram emocionados. Chegamos sábado, no fim da tarde, de Brasília. Às 4h da manha já estávamos aqui, disse João Carlos de Almeida, 54 anos, que levava uma grande bandeira do Brasil. A cerimônia foi maravilhosa, emocionante. João Paulo II foi santo em vida e mudou o mundo com sua presença”, acrescentou.
A presença de mais de 1 milhão de pessoas, num clima de grande comoção, confirma mais uma vez o grande carisma de João Paulo II, que foi lembrado pelo papa Bento XVI no sermão que fez durante a cerimônia.
Em sua homilia, Bento XVI explicou o motivo pelo qual decidiu acelerar o processo de beatificação – último estágio antes da santidade – de seu predecessor: a grande veneração popular por João Paulo II. Passaram-se seis anos desde o dia em que nos encontrávamos nesta praça para celebrar o funeral do papa. Já naquele dia sentíamos pairar o perfume de sua santidade, tendo o povo de Deus manifestado de muitas maneiras a sua veneração por ele”, disse Bento XVI.
Por isso, quis que a sua causa de beatificação pudesse, no devido respeito pelas normas da Igreja, prosseguir com discreta celeridade. E o dia chegou porque assim quis o Senhor: João Paulo II é beato, por sua forte e generosa fé apostólica. Hoje, nos nossos olhos brilha, na plena luz de Cristo ressuscitado, a amada e venerada figura de João Paulo II. Seu nome junta-se à série de santos e beatos que ele mesmo proclamou durante os quase 27 anos de pontificado.
A cerimônia de beatificação foi presidida por Bento XVI e concelebrada por todo o colégio cardinalício. Além dos peregrinos e fiéis de diversos países, 87 delegações oficiais participaram da cerimônia. O Brasil foi representado pelo vice-presidente da República, Michel Temer.
História — Há cerca de mil anos um papa não beatificava seu antecessor, segundo o Vaticano. Bento 16 afirmou que ele “tinha a força de um gigante” e enfrentou “sistemas políticos e econômicos”, como o marxismo e a ideologia do progresso, para cumprir o desafio de viver a fé sem medo. “Sua mensagem foi esta: o homem é o caminho da Igreja, e Cristo é o caminho do homem. Com essa mensagem, que é a grande herança do Concílio Vaticano 2º e de seu timoneiro, Paulo 6º, João Paulo 2º conduziu o povo de Deus ao Terceiro Milênio”, afirmou o papa Ratzinger. O pontífice acrescentou que “aquela carga de esperança que fora cedida ao marxismo e à ideologia do progresso, João Paulo 2º legitimamente reivindicou-a para o cristianismo, restituindo-lhe a fisionomia autêntica da esperança, de viver na história com um espírito de advento, com uma existência pessoal e comunitária orientada a Cristo, plenitude do homem”.
Bento 16 lembrou ainda a famosa frase de João Paulo 2º: “Não temais, abri de par em par as portas a Cristo!” e afirmou que Karol Wojtyla “abriu a Cristo a sociedade, a cultura, os sistemas políticos e econômicos, enfrentando com a força de um gigante, com a força dada por Deus, uma tendência que parecia irreversível”.
Sobre o processo de beatificação, um dos mais rápidos da história, o papa afirmou que já no dia do funeral de Wojtyla, em 8 de abril de 2005, podia se perceber seu “perfume da santidade”, e que o povo de Deus manifestava de muitas formas sua veneração.