Apontado como o operador do mensalão, Marcos Valério foi acusado nesta segunda-feira (10) pelo ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, de mentir durante depoimento dado na ação penal.

Segundo Barbosa, Valério mentiu em seu interrogatório ao informar valores de empréstimos passados para 2S [de Tolentino] e SMP&B, deixando de mencionar valores à Bônus-Banval”, referindo-se à corretora que, segundo a acusação, repassou valores a parlamentares do PP.

O ministro ainda apontou que é interessante notar que Marcos Valério muda de versão conforme as circunstâncias ao ser ouvido em juízo”. Segundo o relator, Valério disse, depois, que o ex-deputado José Janene, morto em 2010, pediu que recursos do PT fosse repassados para o PP por meio da corretora Bônus-Banval.

Barbosa ainda não concluiu o voto sobre o item 4 da denúncia da Procuradoria Geral da República, que aborda o crime de lavagem de dinheiro atribuído aos réus do núcleo operacional, de Marcos Valério, e do núcleo financeiro, formado por ex-dirigentes do Banco Rural.

O ministro apontou também que, em julho de 2005, Valério chegou a confessar a lavagem de dinheiro que alimentava o esquema criminoso. A confissão teria sido feita em depoimento prestado espontaneamente à Procuradoria.

“É fato que os bancos já tinham conhecimento da destinação de recursos repassados. Delúbio Soares informou que o dinheiro tinha o destino de pagar campanhas do PT. Como os partidos destinatários dos recursos não tinham como compravar esses recursos, tinham que ser pagos em espécie, informou Valério em depoimento”, disse Barbosa.

Citando vários laudos técnicos, o ministro indicou fraudes contábeis nas empresas do publicitário, que ocultaram o repasse de verbas milionárias do esquema do chamado mensalão. Os bancos Rural e BMG também participaram do esquema, segundo o relator, dissimulando origem e repasse do dinheiro a políticos aliados ao PT.

“Não há como negar que os réus, dolosamente, em divisão de tarefas próprias de um crime organizado também fraudaram empréstimos, ocultaram bens, informações e dados, para ocultar proprietários e beneficiários de quantias, como etapa para a real lavagem de dinheiro”, disse Barbosa.