Endrick, 16 anos, tem pouca idade, mas já experimentou muita coisa. Surgiu como um fenômeno do futebol brasileiro cedo, aos 11 anos, quando ingressou nas categorias de base do Palmeiras, assombrou o mundo com seus golaços na Copa São Paulo de Futebol Júnior e atropelou etapas e processos até ser promovido ano passado ao profissional.

O início de sua trajetória entre os profissionais foi como toda a sua curta carreira: fulminante. Provou seu valor ao ajudar o Palmeiras ao ser campeão brasileiro com três gols em sete jogos. Mas no início desta temporada, a primeira como titular, ele atravessou a fase de maior instabilidade.

Ainda que incomodasse as defesas e participasse de alguns gols do Palmeiras, o jovem passou 12 jogos em branco. A ausência do que mais saber fazer lhe incomodou e fez o atleta chorar sentado no banco de reservas depois que foi substituído durante a partida contra o Bragantino.

No 13º jogo ele enfim desencantou. E seu gol, marcado no primeiro duelo da final do Paulistão contra o Água Santa, em Barueri, foi crucial para o título estadual, bem como o seu outro gol no Allianz Parque.

Abel deixou Endrick no banco em algumas partidas. Foi preterido até por atletas de talento inferior, como Breno Lopes. Mas sua postura de maturidade enquanto esteve na reserva, a dedicação nos treinos e o gol na primeira partida da final confirmaram ao português que poderia contar com ele. A escolha foi acertada.

Escalado como titular, Endrick sofreu a falta que gerou o primeiro gol, marcado por Gabriel Menino, e anotou o terceiro, aproveitando rebote do goleiro. Participou ativamente das jogadas ofensivas e foi decisivo em um jogo grande como era na base. Abel percebeu que o discurso do garoto condiz com a prática.

JEJUM, COBRANÇAS E INSTABILIDADE

O próprio Endrick cobra muito de si. Em suas entrevistas, é comum vê-lo afirmar que tem de evoluir em um ou outro aspecto. Diz que precisa melhorar o chute com a perna esquerda e ser mais ágil. Mas tudo relacionado ao jovem é superlativo. E o grau elevado de cobranças somado à gigantesca expectativa sobre ele levou o atleta a expor seu incômodo.

“Às vezes me pergunto por que colocaram tanta mídia em mim? Eu não pedi isso. Há situações que passam dos limites”, reclamou o jogador em entrevista à revista GQ, da qual foi capa recentemente.

“‘Ah, ele é o novo Pelé’. Cara, ninguém vai ser o Pelé, ele é o Rei do Futebol. Mas, agora, não tem o que fazer, não dá para pedir que as pessoas não falem da minha vida. Sempre disse que gostaria de ter todos os brasileiros perto de mim, mas entendo cada vez mais que isso não é possível e sempre existirão pessoas para me atacar”, adicionou.

Por não ser um adolescente comum, Endrick não tem uma vida ordinária. Não faz o que a maioria dos garotos de sua idade faz. Tem contratos milionários com uma marca de material esportivo, uma rede de clínicas odontológicas e uma casa de apostas esportivas.

Foi negociado com o Real Madrid por 72 milhões de euros (R$ 400 milhões) na segunda maior venda da história do futebol brasileiro, atrás somente da transferência de Neymar para o Barcelona.

“Ele é um jogador muito tranquilo e maduro por sua idade. Ele é um jogador muito bem preparado para chegar nessa fase da sua vida. Com 16 anos, já ter sido vendido, ser uma esperança da seleção brasileira”, afirmou um de seus companheiros mais veteranos, o lateral-direito Marcos Rocha.

Desconsiderando parcerias com fornecedores de material esportivo, ele tornou-se o futebolista mais jovem a fechar um acordo de patrocínio no ano passado, quando tinha 15 anos. Trata-se de um contrato de três anos com a OdontoCompany com gatilhos que aumentam a remuneração do jovem à medida que alcançar as metas estipuladas.

Aos 16 anos, ele se considera, na realidade, adulto como os seus companheiros de elenco, e dispensa tratamento especial. “Ninguém deve ter dó de mim ou ficar passando a mão na minha cabeça”, pediu. “Preciso seguir trabalhando, que é o que o Abel Ferreira me pede”.

Endrick é esperança para o futuro da seleção brasileira, que passa por um processo de renovação. Por enquanto, ainda tem sido convocado para a equipe nacional sub-20. Mas Abel já deixou claro que não vai liberar seus jogadores para dois amistosos do time de Ramon Menezes na Espanha.