Entra em cartaz a exposição fotográfica Alfaiatarias em Curitiba, do antropólogo João Castelo Branco. Na ocasião serão apresentados 14 painéis coloridos reunindo 45 imagens que registram a prática artesanal da confecção de ternos sob medida. O trabalho explora o universo de valores expresso no ambiente da alfaiataria e no fazer do alfaiate. O projeto – que em breve será lançado em livro – é fruto de uma pesquisa histórica e etnográfica realizada em conjunto com Valéria Oliveira Santos (antropóloga), Dayana Zdebsky de Cordova (produtora e antropóloga) e Fabiano Stoiev (historiador).

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O fotógrafo e antropólogo João Castelo Branco explica que a exposição apresenta o universo visual que compõe a “paisagem da alfaiataria”, ou seja, não só seus espaços e instrumentos, mas também processos e relações. “A seleção das imagens foi realizada pela equipe de pesquisadores e foi orientada pelas questões que mais saltaram aos nossos olhos à medida que fomos conhecendo os alfaiates da cidade. Percebemos que o processo de compra, realização e venda de um terno sob medida articula todo um universo de valores. Diferente da indústria, os alfaiates operam um sistema que valoriza a perfeição do talhe, a beleza das linhas, a precisão do caimento e o acabamento meticuloso e artesanal”.

De fato, a pesquisa realizada pretende, por meio do registro etnográfico e histórico, reunir, sistematizar e tornar acessíveis ao público informações sobre o universo das alfaiatarias e alfaiates de Curitiba. Para a antropóloga Valéria Oliveira Santos o ofício da alfaiataria consiste em uma prática artesanal de confecção e venda de trajes, predominantemente masculinos, feitos sob medida. “A confecção tradicional de ternos possui rituais próprios. As alfaiatarias distinguem-se das lojas de roupas masculinas não só pela especificidade do produto que ela comercializa, mas também pelas relações características estabelecidas entre os alfaiates e seus fregueses. A distinção do trabalho do alfaiate está ligada ao domínio que ele tem de todo um conjunto de técnicas corporais que vão desde a maneira peculiar de manusear as agulhas, os dedais e as pesadíssimas tesouras, até a perícia em ajustar o caimento do tecido ao corpo do cliente”, conta.

O projeto Alfaiatarias e alfaiates de Curitiba está fundamentado na idéia de que a identificação, descrição e produção de conhecimento sobre a vida social e a memória do tema proposto contribuem para a valorização deste ofício e modo de fazer tradicional, e para o reconhecimento do mesmo como bem cultural ao qual a memória e a vida social atribuem sentido diferenciado. “A pesquisa etnográfica, e também documental e bibliográfica, busca compreender a dinâmica de uso na qual o ofício da alfaiataria está inserido. Ou seja, abordar esta prática em seu caráter vivo e dinâmico, tanto no que diz respeito aos seus processos de criação, recriação e transmissão, quanto no que se refere aos problemas que a afetam. Portanto, é fundamental focalizar este ofício em sua globalidade, ou seja, não apenas em seu caráter técnico, como também na sua dimensão criativa, social, econômica e política”, completa a antropóloga Dayana Zdebsky de Cordova.

Nesta etapa do projeto – realizado com o Fundo Municipal da Cultura da Fundação Cultural de Curitiba – será aberta uma exposição fotográfica. E, ainda neste semestre, será lançado um livro que apresenta o contexto social no qual estão inseridas as alfaiatarias, os alfaiates e seus respectivos clientes, e as histórias, transformações e especificidades deste ofício. “É importante ressaltar que o conteúdo do livro também traz uma compilação de dados sobre os diversos tipos de trajes, modelos, texturas, tecidos, técnicas de corte e costura, instrumentos de trabalho e relações comerciais existentes no universo da alfaiataria em Curitiba”, finaliza Valéria.