FLÁVIA FOREQUE
BRASÍLIA, DF – Diante de um cenário de forte déficit comercial em 2014, o Itamaraty terá como “linha mestra de atuação” a busca por ampliar o espaço da produção brasileira no cenário internacional. Esse foi o objetivo apontado pelo novo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, em seu primeiro discurso no cargo, na tarde desta sexta-feira (2).
Apesar de reconhecer “permanentes desafios materiais” dos postos brasileiros no exterior, Vieira cobrou uma diplomacia de resultados, “que se medem com números e se obtém com consciência da missão, ação e engajamento”.
Diante de diplomatas e demais servidores da casa, ele ainda tocou em temas delicados da pasta, como a carência de recursos e a insatisfação dos diplomatas mais jovens com a progressão na carreira.
“A linha mestra de atuação do Itamaraty (…) será colaborar intensamente para abrir, ampliar ou consolidar o acesso mais desimpedido possível do Brasil a todos os mercados do mundo, promovendo e defendendo o setor produtivo brasileiro e coadjuvando suas iniciativas e ajudando no que for possível a captar investimentos”, afirmou em evento de transmissão de cargo no Palácio Itamaraty.
Vieira também anunciou o novo secretário-executivo do Itamaraty: Sérgio Danese, então subsecretário-geral das comunidades brasileiras no exterior substitui o embaixador Eduardo dos Santos.
DIPLOMACIA DE RESULTADOS
O novo chanceler afirmou que os postos brasileiros atuam sob a “pressão de imensas dificuldades” e disse que fará “tudo o que estiverao meu alcance” para sanar as carências. Vieira, no entanto, cobrou empenho dos diplomatas em embaixadas e consulados no exterior.
“Não basta estarmos presentes no mundo. É preciso sermos atuantes. O valioso simbolismo da presença não pode substituir uma diplomacia de resultados. Resultados que se medem com números e se obtém com consciência da missão, com ação e engajamento.”
Ele ainda argumentou que os desafios do Itamaraty “não são novos” nem exclusivos da chancelaria brasileira. “São comuns a muitas das grandes chancelarias”, argumentou.
INSATISFAÇÃO
Vieira assumiu um “compromisso” com o “aprimoramento e modernização dos métodos de trabalho do Itamaraty”. Hoje, há uma insatisfação de jovens diplomatas diante do processo de remoção e crescimento na carreira.
Com a ampliação das vagas em concurso para a carreira, durante o governo do ex-presidente Lula (2003-2010), diplomatas afirmam enfrentar maior dificuldade para ascender a categorias mais altas, como ministro e embaixador.
“Darei especial atenção aos anseios dos colegas mais jovens, cuja dedicação entusiasmada sempre foi um dos esteios fundamentais do Itamaraty e sem a qual não teríamos a força de trabalho e espírito de renovação que nos distingue”, afirmou aos presentes.
“As questões centrais de seleção, formação, progressão funcional, remuneração, circulação entre os postos e aperfeiçoamento profissional ao longo da carreira precisam ser enfrentados a luz dos objetivos e do alcance da política externa”, disse Vieira.
EXCLUSIVISMO
O novo chanceler afirmou que o Itamaraty continuará buscando aprofundar suas relações com os diversos países e regiões, desde os vizinhos da América do Sul até nações desenvolvidas da União Europeia e Estados Unidos. Ex-embaixador em Washington, ele negou que a agenda terá “exclusivismos”.
“Seguiremos um princípio básico de que nossos interesses são geográfica e tematicamente universais e portanto não apresentam contradições entre si nem aceitam exclusivismos.”
PATRIOTA E SABOIA
Além da presença do vice-presidente, Michel Temer, e do senador José Sarney (PMDB-AP), o evento foi acompanhado por ex-chanceleres, como Celso Amorim e Antonio Patriota. No Salão Brasília, também estava o ministro Eduardo Saboia, que auxiliou a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil.
O episódio foi motivo de desgaste com o Palácio do Planalto e motivou a saída de Patriota, atualmente representante do Brasil junto às Nações Unidas, em Nova York. Ele foi substituído por Figueiredo em agosto de 2013.