O anúncio do Irã de que obteve capacidade para fabricar combustível nuclear em escala industrial pode não passar de um blefe, especulam especialistas ocidentais. Dois inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que podem fornecer a primeira confirmação independente sobre o anunciado progresso iraniano, chegaram hoje a Natanz para examinar o centro de enriquecimento de urânio que o Irã disse ter ampliado sua capacidade nuclear.


A Rússia declarou nesta terça-feira não ter indicações de que os iranianos obtiveram um avanço tão significativo em seu programa de enriquecimento de urânio, posição seguida por especialistas de outros países que vêem o anúncio do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, como um golpe de relações públicas em meio à queda-de-braço diplomática com o Ocidente.


Ahmadinejad declarou na segunda-feira, em meio a argumentações patrióticas, que o Irã já tinha condições de produzir urânio enriquecido em larga escala, ressaltando que seu programa nuclear tem fins pacíficos.


A comunidade internacional teme que Teerã busque desenvolver armas atômicas e o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) já aprovou três resoluções exigindo a suspensão do programa de enriquecimento de urânio.


O anúncio de Ahmadinejad também foi feito dias após a libertação de 15 marinheiros britânicos cuja captura, no dia 23, no Golfo Pérsico, havia atraído críticas de vários países.


Ainda nesta terça-feira, o diretor do Organismo Iraniano de Energia Atômica, Gholam Reza Aghazadeh, afirmou que seu país tem tudo planejado para instalar em Natanz 50 mil centrífugas – um número citado anteriormente pelo governo iraniano como sua principal meta.


“Não temos conhecimento de nenhum grande avanço tecnológico recente no programa iraniano que possa mudar a natureza do trabalho de enriquecimento conduzido no país”, indicou um comunicado do Ministério russo de Relações Exteriores. A Rússia está construindo, em parceria com o Irã, uma central de energia nuclear na cidade iraniana de Bushehr.


Num relatório divulgado em 11 de fevereiro, o Irã indicou que havia instalado duas cascatas (séries) de 164 centrífugas cada e preparava a instalação de outras duas.


No entanto, diplomatas ligados à AIEA disseram que aparentemente o Irã teve problemas técnicos para expandir sua rede de centrífugas e seu programa está num estágio muito menos avançado do que o anunciado.


Um diplomata em Viena disse não acreditar que o Irã tenha instalado as 3 mil centrífugas. “Se observarmos a velocidade com que eles têm feito as coisas e usar a matemática, não chegamos a 3 mil”, afirmou.


Especialistas disseram que se o Irã realmente instalou as 3 mil centrífugas teria combustível nuclear suficiente para fabricar uma bomba num período de um a três anos, mas, para isso, as centrífugas deveriam estar trabalhando ininterruptamente, algo que eles questionam já que o projeto está em fase experimental.


Segundo o especialista Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, de Londres, o anúncio de Ahmadinejad soa como um exagero. O Irã fez no passado bombásticas declarações sobre seu progresso para fortalecer seu poder de barganha com o Ocidente.