Um grupo de médicos e engenheiros brasileiros criou o primeiro aparelho portátil capaz de detectar arritmias (alteração nos batimentos cardíacos) e mandar os dados em tempo real para a internet. Previsto para ser lançado em janeiro no País, por R$ 2 mil, ele promete acabar com uma das maiores dificuldades dos cardiologistas, que é registrar a arritmia no momento em que ela ocorre.

O dispositivo (Web Looper) é formado por dois eletrodos que são fixados no peito com adesivos, e uma base (caixinha no comprimento de uma caneta), que pode ser levada no bolso. A caixa contém uma placa de telefone celular, uma bateria e um eletrocardiógrafo (que registra os batimentos).

Ao detectar algum sintoma, o paciente aperta um botão na base e o eletrocardiograma é enviado por meio de sinais digitalizados para uma operadora de celular, que envia os dados para a internet. O sinal enviado é um eletrocardiograma de 45 segundos, com 15 segundos registrados antes do sintoma.

Com o sistema, o médico pode analisar o exame de qualquer parte do mundo praticamente ao mesmo tempo em que ocorrem os sintomas. Os resultados ficam armazenados num site (http://ecgweb.com.br).

“A idéia é que os pacientes possam também acessar o site”, afirma o cardiologista José Carlos Pachón Mateos, chefe do Serviço de Arritmia do Hospital do Coração, em São Paulo, um dos responsáveis pela invenção. “Assim, o paciente poderá imprimir o exame e levar para o médico que eventualmente não tenha se cadastrado no site.”

No mercado há dois tipos de aparelhos portáteis para arritmia: o holter, que grava os batimentos cardíacos ininterruptamente durante 24 horas, e o looper, que pode ser programado pelo médico e gravar, por exemplo, só no momento em que os sintomas aparecem.

“A maior vantagem do Web Looper é o sistema de comunicação”, avalia o cardiologista Fábio Sândoli de Brito, responsável pelo Serviço de Holter do Laboratório Fleury e dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, de São Paulo. “Até hoje, os pacientes tinham de ir até o consultório levar o aparelho para o médico descarregar os dados num computador com um modem específico ou enviavam os dados por sistema de transtelefônica (transmissão do som codificado pelo telefone), cujo resultado é deficiente, qualquer ruído pode atrapalhar o sinal.”

A idéia do novo aparelho surgiu há quatro anos. Desde então, Pachón e os engenheiros Luciano Coan e Denys Nicolosi fizeram testes em 50 pacientes durante pesquisas clínicas no Hospital do Coração.

O engenheiro eletrônico Edward Morgan, de 61 anos, foi um dos voluntários, há seis meses. “Já tinha usado holter uma dezena de vezes e nenhum aparelho detectou o problema. Os sintomas sempre apareciam quando eu estava sem o dispositivo”, diz ele. “Fiquei três meses com o Web e me senti muito seguro só em pensar que o médico conseguia fiscalizar meu coração quase ao mesmo tempo em que eu tinha os sintomas.”

ARRITMIA

O coração é como se fosse uma bomba eletromecânica. Um órgão sadio bate de 50 a 90 vezes por minuto, em repouso. Quando os batimentos ultrapassam 90, trata-se de taquicardia. Bradicardia é quando ficam em menos de 50.

Os batimentos servem para transportar o sangue pelo organismo, levando oxigênio para as células do corpo. Num adulto, cada batida bombeia de 30 a 50 mililitros de sangue.

Arritmia é a alteração dos batimentos cardíacos (aceleração, redução e descompassos), que podem durar de segundos a minutos. “Aproximadamente 70% das pessoas já tiveram ou vão ter pelo menos uma vez essa arritmia”, conta o cardiologista Pachón.

A maior incidência é entre os pacientes que têm de 15 a 45 anos de idade. Os principais sintomas da doença são tontura, mal-estar, escurecimento da visão e rápidos desmaios.