SILAS MARTÍ, ENVIADO ESPECIAL MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Sem dúvida a obra mais magnética desta edição da Arco, em Madri, uma performance do artista alemão Tino Sehgal deixou ninguém menos que Pedro Almodóvar plantado por quase 20 minutos dentro de uma sala. Num ambiente todo escuro, o público entrava apalpando o espaço para não esbarrar em nada. O silêncio também era total, até que a voz de um homem dizia “Kiss”, beijo em inglês, e a de uma mulher acrescentava uma data. Quem tivesse paciência acabaria enxergando no breu os contornos de um casal de atores nus encenando beijos clássicos da história da arte, entre eles o de uma escultura com esse nome do romeno Constantin Brancusi, um dos trabalhos mais emblemáticos da arte moderna. Um dos cineastas mais emblemáticos do cinema moderno, Almodóvar apareceu na Arco e não saía da sala, tentando ajustar os olhos à escuridão até achar o tal casal. Rodeado de amigos, ele dizia que depois de tentar várias posições, acabou achando um ponto de visão privilegiado. “É incrível isso”, disse o diretor de clássicos como “Mulheres à Beira de um Ataque de “Nervos” e “Tudo Sobre Minha Mãe”. “Uma coisa estupenda.” Almodóvar, que estreia seu próximo filme em abril na Espanha, também contou que tem uma pequena coleção de arte. “Não sou colecionador”, disse à Folha. “Só compro aquilo que mexe muito comigo.” “Ele gosta de ir às exposições e ficar olhando”, disse a artista Cristina Iglesias, um dos nomes mais conhecidos da cena espanhola, que é amiga do artista. “Não é para ter as coisas que ele gosta. Às vezes é só buscar uma inspiração para seus filmes.” Irmão de Cristina, o músico Alberto Iglesias é responsável pelas trilhas sonoras dos últimos dez filmes do cineasta. Sobre o próximo filme de Almodóvar, em que também trabalhou, adianta que será um “drama muito sedutor”.