O ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho depôs ontem em São Paulo e alegou não se lembrar de nada do que aconteceu no dia 7 de maio, quando ele se envolveu em um acidente de trânsito que resultou na morte de duas pessoas, no bairro do Mossunguê, em Curitiba. Carli Filho foi ouvido pelo delegado Armando Braga, da Delegacia de Delitos de Trânsito, que após o depoimento, anunciou o indiciamento do ex-parlamentar por homicídio.

O acidente aconteceu quando o Passat que Carli dirigia atingiu um Honda Fit onde estavam Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20. Os dois ocupantes do Honda morreram na hora. As investigações comprovaram que o então deputado dirigia embriagado, com um nível de 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue no momento do acidente, quatro vezes mais que o limite tolerado de 0,2. Depoimentos de testemunhas e indícios apontaram ainda que Carli Filho dirigia em alta velocidade. Além disso, ele trafegava com a carteira suspensa com mais de 130 pontos na carteira de habilitação por uma série de infrações de trânsito.

Com a repercussão nacional do caso, Carli acabou renunciando ao cargo de deputado no último dia 29 para escapar do processo de cassação do mandato e perda dos direitos políticos, aberto pela Assembleia Legislativa a pedido da família Yared. No último sábado, ele recebeu alta e deixou o Hospital Albert Einstein, onde estava internado desde o dia 10.

No depoimento, ontem, o ex-deputado alegou não se lembrar de nada do dia do acidente. Segundo o delegado, Carli Filho alegou também não se lembrar ainda se consumiu bebida alcoólica na noite do acidente, bem como não se recorda o itinerário e a velocidade que estava no momento da colisão. “Ele garante não se lembrar de nada do dia do acidente. Diz que a última coisa que se recorda é ter visitado o pai, mas não sabe dizer nem se foi naquele dia. Depois, relata só se lembrar de ter acordado num quarto branco, onde informaram a ele estar em uma UTI”, contou Braga.

“A perda da memória, segundo os médicos, é decorrente do acidente e da forte lesão na cabeça. Mas ele garantiu que assim que melhorar seu estado poderá prestar outras informações à polícia”, afirmou o delegado.

As alegações de Carli não convenceram Elias Matar Assad, advogado da família de Gilmar Souza Yared, uma das vítimas. Para ele, suposta “amnésia” do ex-parlamentar seria apenas uma estratégia de defesa. “Se ele disse isso, ele nada mais fez do que exercitar o direito de ficar em silêncio por via oblíqua, de maneira inusitada. Difícil será convencer o Ministério Público, o Judiciário e os cidadãos brasileiros”, avaliou. Apesar disso, o advogado comemorou o fato de Carli ter sido finalmente ouvido. “O lado bom da realização do ato é que o inquérito agora tem tudo para terminar nos próximos dias e ser iniciada a ação penal”, disse.

De acordo com a Polícia, o próximo passo será a reconstituição do acidente para mais algumas medições. “Depois disso, juntaremos os laudos e finalizaremos o inquérito já com o indiciamento do ex-deputado por homicídio com dolo eventual. O inquérito será remetido ao Ministério Público, que tomará as providências finais”, explicou Braga.