A contínua elevação das cotações do barril de petróleo no mercado internacional, superando a marca de US$ 90,0 no final de outubro, vem conformando, rapidamente, uma marcha rumo aos patamares reais recordes registrados depois de setembro de 1979, com o advento da revolução populista e teocrática no Irã, liderada pelo Aiatolá Khomeini, que implicou a deposição do Xá Reza Pa Levi, aliado dos Estados Unidos.
Lembre-se de que aquele episódio ensejou a eclosão de um choque de juros e uma profunda recessão na economia mundial, liderada pelas decisões do governo norte-americano, depois de rechaçar as propostas depressivas feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), sustentadas em forte depreciação do dólar, referência comercial e financeira do planeta desde a Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944.
Por certo, tal movimento ainda não deve ser rigorosamente confrontado com o passado, em face sobretudo dos avanços tecnológicos que oportunizaram a utilização mais eficiente da energia fóssil. Contudo, o episódio pode ser compreendido à luz da identificação e interpretação de raízes estruturais, conjunturais e geopolíticas.
Pelo ângulo estrutural, emerge a constatação de tratar-se de uma trajetória delineada desde o começo de 2002, combinando forte incremento dos níveis de demanda mundial e vagaroso processo de expansão e/ou maturação dos investimentos em ampliação da capacidade de oferta.
Tanto é assim que, segundo estimativas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que congrega as 30 nações mais desenvolvidas do mundo, o consumo global do óleo deverá ultrapassar o volume de produção ao final de 2007 (85,7 milhões versus 85,0 milhões de barris), em razão principalmente da queda dos estoques norte-americanos por conta da entrada do inverno rigoroso.
Pela observação conjuntural, é possível identificar a presença de fatores financeiros, especialmente, a acentuação do papel exercido pelo petróleo como ativo devido à pronunciada queda do valor do dólar no mercado internacional, que sofreu depreciação de quase 10,0% frente ao euro em doze meses, e à crise do mercado subprime nos Estados Unidos.
Por fim, dentre as interferências geopolíticas, chama a atenção a possibilidade de acirramento dos conflitos no Oriente Médio, com os atritos do Irã com as potências ocidentais e a ameaça de invasão turca no norte do território iraquiano, para a captura dos rebeldes curdos.



Gilmar Mendes Lourenço é Economista, Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UNIFAE – Centro Universitário Franciscano – FAE Business School.