FABIO BRISOLLA
RIO DE JANEIRO, RJ – Em cada 100 partos nos hospitais privados no país, 88 são realizados por meio de cirurgias cesarianas. O índice, considerado alarmante por autoridades de saúde, integra a pesquisa “Nascer no Brasil”, coordenada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), baseada em depoimentos obtidos dentro das maternidades de 266 hospitais públicos e privados.
A média nacional de cesarianas ficou em 52% do total de partos. E o percentual de cirurgias registradas nas maternidades públicas atingiu 46%.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o índice deste tipo de intervenção cirúrgica deve ficar em torno de 15%.
Os pesquisadores envolvidos no projeto entrevistaram 23.894 mulheres, sempre após o parto, entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012 em 191 cidades do Brasil.
“Percebemos que houve uma banalização das cesarianas no Brasil. O que passou a determinar este tipo de cirurgia não são mais os fatores clínicos”, criticou Rosa Domingues, pesquisadora do grupo da Fiocruz que participou da pesquisa. “Muitas vezes, a mulher não cogita fazer a cesariana no início da gravidez e depois muda de ideia. Isso mostra que algo acontece neste caminho. Por alguma razão, ela acaba convencida a optar pela cesariana”.
De acordo com a pesquisa, 36,1% das mulheres no sistema privado de saúde, que estavam na primeira gravidez, sinalizavam a preferência pela cesariana já no início da gestação. Ao fim dos nove meses, no entanto, o percentual de pacientes a favor da intervenção cirúrgica aumentava consideravelmente: 67,6% das grávidas preferiam passar por uma cesariana.
Na rede pública, 15,4% das pacientes queriam a cesariana desde o início. E, ao fim da gestação, 44,8% das mulheres preferiam a cirurgia.
“É muito significativo que, nas redes pública e privada, não haja um aumento do desejo da mulher pelo parto normal ao longo da gravidez”, diz o obstetra Marcos Dias, do Instituto Fernandes Figueira, que também colaborou com a pesquisa.
A pesquisa também revelou que 55% das entrevistadas não planejavam engravidar. E, mesmo após o parto, 9% dessas mulheres permaneciam insatisfeitas com a gravidez.