SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O líder do Partido Trabalhista, o deputado Jeremy Corbyn, 67, foi reeleito com ampla vantagem à frente da principal formação de oposição britânica e fez um chamado para reunificar o partido
Corbyn obteve 61,8% dos votos superando seu único adversário, o deputado Owen Smith, de 46 anos, que ficou com 38,2% dos votos.
Graças ao apoio das bases Corbyn garantiu o cargo, mesmo questionado pela maioria dos deputados trabalhistas, mas nada indica que a crise vivida pelo partido desde a vitória do Brexit tenha sido superada.
“Vamos trabalhar juntos por uma verdadeira mudança”, declarou Corbyn imediatamente depois do anúncio dos resultados.
Corbyn deve grande parte de sua vitória a novos membros. No último ano, 300 mil pessoas se afiliaram ao partido, dobrando assim o número de militantes da formação, a maior da Europa.
Muitos abraçaram o projeto de “revolução democrática” e as ideias da esquerda do “camarada Corbyn”, o que levou a denúncias de que se infiltraram no partido militantes trotskistas e ecologistas.
NA LINHA DO PODEMOS
“Por toda a Europa vimos emerger partidos construídos sobre uma base ativista, como Podemos, na Espanha, o movimento Cinco Estrelas, na Itália, ou Syriza, na Grécia”, destacou Patrick Dunleavy, professor da London School of Economics. “Com Jeremy Cobyn, o trabalhismo se aproxima desta tendência”, acrescentou.
Os moderados, segundo as pesquisas, consideram que esta estratégia condena o partido a vários anos, ou décadas, na oposição.
“Os trabalhistas jamais vencerão nenhuma eleição em um futuro próximo”, afirma Anand Menon, professor de Ciências Políticas do King’s College de Londres.
Para os analistas, as próximas eleições legislativas, previstas para 2020, darão a vitória aos conservadores, no poder, considerados os verdadeiros vencedores deste fim de semana.
Corbyn, obviamente, não está de acordo com os prognósticos. “Disputaremos para vencer as eleições de 2020”, enfatizou.
Segundo fontes internas, vários deputados rebeldes já estão dispostos a voltar às fileiras do partido. Mas os insultos e ameaças durante a campanha poderão deixar cicatrizes profundas.
Nem mesmo uma reconciliação resolveria o problema de um líder indesejável aos olhos da elite, mas apoiado pelos militantes.
Convencidos de que a presença de Corbyn é um obstáculo para volta ao poder, os deputados moderados poderão ficar tentados a criar um novo partido de centro-esquerda.
A maioria dos analistas não aposta nesta hipóteses. Tony Travers, da London School of Economics, recorda que, em 1981, a criação do Partido Social-democrata acabou em fracasso.
“O trabalhismo me parece uma família infeliz que tenta conviver”, afirmou o analista.