O Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, terminou neste domingo com ampla percepção de que uma frágil recuperação está em andamento, mas sem consenso sobre o que irá gerar crescimento do emprego e evitar outra crise econômica global.

No encontro de cinco dias que reuniu figuras poderosas mundiais e de grandes egos foi possível constatar alguma humildade e também o reconhecimento de que a superação da crise financeira mundial é como estar em águas desconhecidas.

Cerca de 2,5 mil figurões reunidos nos Alpes Suíços participaram de debates acalorados abordando questões sobre maior regulação da indústria financeira; sobre como estimular o desemprego global e encontrar formas para garantir que a nascente recuperação continue nos trilhos ao longo de 2010.

A atmosfera sombria que prevaleceu na edição passada do fórum, durante o ápice da crise econômica, foi substituída este ano por um sentimento de certa satisfação de que uma modesta recuperação está ocorrendo, mas também por incerteza sobre o futuro e sobre como os bancos deveriam responder.

O presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, disse que o pior da crise foi administrado “com sucesso”, mas afirmou que os executivos agora têm de fazer uma escolha difícil: “Devemos tomar mais risco, ser uma força criativa para o crescimento, ou devemos focar em segurança?”, questionou.

Peter Sands, presidente-executivo do Standard Chartered Bank, ponderou em um debate que o equilíbrio deve ser alcançado “entre um sistema bancário mais seguro e um sistema financeiro que possa dar suporte ao dinamismo e ao à criação de emprego”. “Se errarmos de um lado, arriscamos ter uma nova crise. Se errarmos de outra forma, esvaziamos a recuperação e reduzimos as chances de criarmos novos postos de trabalho”, afirmou.

Sands acrescentou que todos devem ter “um grau de humildade sobre o que realmente sabemos e quão confidentes podemos ser se as ideias que colocaremos em ação irão ter as consequências que imaginamos que teriam”.

O foco em fóruns passados estava em celebridades como Angelina Jolie e Bono, mas, neste ano, recaiu em banqueiros e reguladores Diversos participantes chamaram atenção para a ausência de figuras de alto escalão da administração Barack Obama, dos Estados Unidos. Do país, esteve presente Lawrence Summers, diretor do Conselho Econômico da Casa Branca.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, pediu o retorno da ética e da moralidade nos negócios e repreendeu o capitalismo do livre mercado. O fundador do fórum, Klaus Schwab, encerrou o evento pedindo aos empresários e governantes para refletirem “sobre valores” e responsabilidade social.

Sarkozy disse aos banqueiros e executivos o que estes não queriam ouvir:

Aceitar limites aos bônus, regulação bancária mais rígida e novas regras contábeis. A fala do francês ecoou protestos de trabalhadores dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Horas antes, Obama pedia reformas para Wall Street.

O que pode ter sido o encontro mais importante destes cinco dias não estava agendado. Ocorreu no sábado em paralelo ao Fórum quando os reguladores de diversos governos, ministros das finanças e banqueiros centrais dos Estados Unidos e da Europa divulgaram os planos para reforma financeira durante o encontro de duas horas com executivos do setor bancário.

Sands, do Standard Chartered Bank, classificou as discussões como “muitos construtivas”, mas disse que, “de uma forma, as questões não foram resolvidas, mas certamente houve avanços”. Ackermann, do Deutsche Bank, elogiou os principais agentes econômicos por expandirem o G-8 em G-20. Ele afirmou que deveria haver também um grupo dos 20 do lado dos empresários para trabalhar em conjunto com o G-20 e focar em questões de negócios

Para Azim Premji, presidente Wipro Limited, uma empresa de comunicação global, previu que a diferença entre as taxas de crescimento de países em desenvolvimento e desenvolvidos “vão ser maiores”. O resultado, acrescentou ele, é que os países mais ricos irão investir “mais agressivamente” nos mercados emergentes com objetivo de manter seu próprio crescimento econômico, o que também deverá ser “bom para o mundo emergente”.