Ana Procopiak e Isabel Cunha de Almeida revelam o espaço urbano em busca do fugidio de seis grandes cidades na exposição Déambulations Poétiques que acontece na Aliança Francesa até 2 de outubro. As artistas, que percorreram diferentes espaços e situações, captaram fotograficamente os desvios e as fragilidades escondidas nas entranhas das cidades.

Confessando apego e laços afetivos, as artistas lançam múltiplos olhares da realidade invadida por concretos, pedras beneficiadas e mantos de asfalto. Mas esses caminhos apresentam a visão singular das suas deambulações poéticas. Provavelmente sem final feliz, a dupla leva ao portal da reflexão o cotidiano escondido nas esquinas esquecidas dos grandes becos da vida.

Ana Procopiak registra no revestimento urbano os vestígios da natureza que aparecem aqui e ali, a marcar sua presença, bem como, a copa das árvores que solta folhas e flores indicando o ciclo vida/morte/vida em meio à urbe revestida pela frieza mórbita do cimento. É a poética desses encontros que interessa a artista está em visualizar o meio do caminho de Curitiba, Porto Alegre e Campo Grande.

Isabel Cunha de Almeida registra suas imagens nas cidades de Paris, Teerã e Moscou. Estas imagens enquadram as cidades, transformando-as em fragmentos, geometrias do olhar. O que a atrai nessas paisagens enquadradas com o visor é o fato de evidenciar linhas e formas que na maioria das vezes passam despercebidas no turbilhão dos estímulos que circulam pelo espaço urbano.
Nas nossas deambulações poéticas nos encontramos e nos deixamos perder na intrincada trama da urbe, convidando o observador a realizar seus próprios percursos, pregam as artistas, que citam um trecho de um poema de Mário Quintana para justificar o encontro que parecia impossível: descobrir continentes é tão fácil como esbarrar com um elefante:
poeta é o que encontra uma moedinha perdida….

Almeida está concluindo doutorado na Université Paris I, na França, em Artes e Ciências das Artes. O encontro com as artes foi no curso técnico em Design Industrial no Ensitec, no distante mundo de Orwell, em 1984. Depois se graduou em Pintura e Licenciatura em Desenho na Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Ana Procopiak, que desenvolve atividades como professora universitária, arte-educadora, artista visual e designer, diz que procurou observar as identidades ambientais das cidades que percorreu ou habitou. Ao contrário de Isabel Cunha de Almeida que está em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum lugar. Isabel nos últimos anos vem morando no exterior e teve passagens temporárias por diferentes culturas. Eu morei em Paris, na França, depois passei por Teerã, no Irã, e atualmente vivo em Moscou, na Rússia, explica.
A busca dentro do caos urbanos de fatos que passam batidos no cotidiano é o principal desafio da dupla. Estamos dando um olhar em câmara lenta da sociedade em que estamos envolvidas. Olhamos o que s pessoas não observam. Nas entranhas das cidades há um redescobrimento urbano, analisa Procopiak.

A evidência está em uma análise do mundo em que elas dizem não pertencer. Por ser uma estrangeira consigo ver de forma mais ampla. Tento entender as diversas culturas, o que acaba me influenciando e que me levam a criar personagens, envolvidas em situações diferentes conforme o mapa social, conta Almeida.

Para a dupla o social não é importante. A obra deixada pelo homem na construção ornamental arquitetônica nos fascina. Nos nossos trabalhos eles fazem os papéis de meros coadjuvantes, aparecendo como revelação pelo meio-ambiente violado, avalia Procopiak. Não há a intenção de colocar uma posição crítica. Só quero ser testemunha da fragmentação da cidade, oferecendo um novo enquadramento e fazendo uma releitura. Persigo novas geometrias, comenta Almeida.

A prova de que uma estética alucinante está no trajeto é a descoberta da Torre Eifel como se fosse uma grua e não um monumento turístico, que atrai milhões de pessoas todos os anos para contemplá-la. Me dou ao luxo de ter a liberdade da intervenção no espaço urbano, finaliza Almeida.