São Paulo, 09 (AE) – O argumento da Petrobras – de que a utilização do diesel 50 ppm nos motores atuais resultaria em benefícios limitados – não é consenso entre especialistas em poluição atmosférica. Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo mostra que o consumo de diesel 50 ppm reduz em mais de 50% as emissões de particulados em relação ao diesel 500 ppm, sem qualquer modificação adicional dos motores. Considerando os benefícios para a saúde pública, isso já justificaria a comercialização do diesel 50 ppm.

As estatísticas demonstram que a adoção de uma política de redução de emissões é fundamental para a vida das pessoas nos grandes centros urbanos. Segundo o coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Paulo Saldiva, estimativas indicam que o Proconve evitou a mortalidade precoce de 16 mil habitantes da região metropolitana de São Paulo de 1996 a 2005.

De acordo com o professor, estudo conduzido pelo laboratório na região metropolitana de São Paulo aponta que o nível de concentração de particulados em 2007 será de 24 microgramas por metro cúbico (m3) de ar. Em 2006, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) mediu 22 microgramas por m3. Esses valores estão muito acima dos indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 10 microgramas por m?.

Das 24 microgramas por m3, 54% do particulado emitido é proveniente de veículos diesel, que representam apenas 10% da frota em circulação pela região. Considerando que cada micrograma por m3 de particulado no ar resulta em um incremento de 0,6% na mortalidade em adultos acima de 30 anos, segundo os parâmetros da OMS, os pesquisadores da USP calcularam que os veículos a diesel respondem por um aumento de 7,8% na mortalidade, ou 6,7 mil mortes, valor que corresponde a 7% das mortes naturais de adultos no ano de 2005.

Nesse cenário, portanto, a adoção do diesel 50 ppm nos motores atuais evitaria a morte precoce de mais de 3 mil paulistanos por ano. É inegável dizer que o País tem avanços importantes na área de energia, com uma matriz elétrica renovável em mais de 70% e com a grande penetração aos biocombustíveis. Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que o Brasil seja, de fato, um modelo a ser seguido pelo mundo, também na questão da redução de emissão de poluentes.