O ano de 2014 será de baixo investimento produtivo do setor privado na indústria da transformação. “Não é um quadro de ruptura, mas sim de desaceleração”, afirmou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloisio Campelo.

Segundo ele, a taxa de juros mais elevada, a previsão de desembolso menor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a crise na Argentina (que preocupa pelo lado da exportação) podem estar comprometendo as perspectivas das empresas para o investimento.

Nos próximos 12 meses, 34% das empresas preveem investir mais, contra 43% um ano antes. Já as que pretender reduzir os investimentos são 16%, contra 13% na mesma comparação. A piora do cenário macroeconômico foi determinante para essa mudança de avaliação.

“Não é só uma deterioração no sentido de que há piora nos fundamentos da economia. A situação fiscal está pior, a inflação se mostra resistente, mas há também componentes de incerteza, que se somam justamente por essa piora e por novos ingredientes, como as manifestações, a discussão sobre o risco de racionamento e a crise na Argentina”, disse Campelo.

Para a economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, da FGV, houve uma desaceleração muito forte na previsão de investimentos no período de apenas um ano. Ela notou ainda que o movimento é mais intenso até do que o ocorrido entre 2008 e 2009, período crítico da crise financeira mundial.

A incerteza e o pessimismo são outros fatores que podem estar influenciando as previsões. Campelo observou que, quanto mais alto o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), maior o número de empresas que dizem pretender ampliar os investimentos ao longo do tempo. “Neste ano, o Nuci praticamente não caiu, mas a previsão de investimentos recuou muito”, disse.

Segundo o superintendente, é possível que tenha havido antecipação dos investimentos ao longo de 2013, em função de taxas de juros mais baixas, do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e do desembolso recorde do BNDES. Na comparação interanual, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) ainda mostra certo vigor, em razão de investimentos já encomendados, mas a tendência é de redução do ritmo.

A previsão de taxa média de expansão da capacidade de produção dos bens de capital no triênio 2014-2016 caiu a 18,3%, de 25,9% no triênio 2013-2015, segundo a sondagem. Para Campelo, esse movimento se deve à volatilidade dessa categoria de uso. “Há um ímpeto muito grande quando a economia começa a crescer, e, quando inverte, há uma correção muito forte para baixo”, disse.

Para a indústria de transformação como um todo, essa taxa média caiu a 19,6% no triênio 2014-2016, o menor nível desde o período 2002-2004 (19,5%), quando foi iniciada a pesquisa. “Era o momento da saída do racionamento energético. Ainda tinha a crise da Argentina, o 11 de setembro e a bolha na bolsa de Nasdaq”, notou Campelo.