SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A primeira-ministra britânica Theresa May sucumbiu à pressão da ala favorável ao “brexit” dentro de seu seu Partido Conservador e aceitou modificar o projeto que vai definir as regras alfandegárias do país após sua saída da União Europeia.  

A líder britânica passa por um momento de instabilidade em seu governo após a saída de dois de seus principais secretários na última semana devido a discordâncias sobre um possível acordo comercial entre Londres e Bruxelas.

Tanto David Davis, que cuidava da pasta responsável por negociar o “brexit”, quanto Boris Johnson, de Relações Exteriores, pediram demissão após May anunciar no último dia 6 que seu governo havia chegado a uma posição comum para a criação de uma área de livre-comércio entre o Reino Unido e a União Europeia.

Pelo projeto, o governo britânico se comprometeria a manter regras da UE para bens e produtos agrícolas. Parlamentares a favor de um rompimento mais radical com o bloco argumentam que a proposta prende o Reino Unido ao restante do continente e dificulta novos acordos no resto do mundo.  

Por isso, um grupo de deputados eurocéticos liderados por Jacob Rees-Mogg decidiu confrontar May e apresentou quatro emendas ao texto da primeira-ministra, mas o governo anunciou nesta segunda (16) que não se opõem às mudanças e que apoiará a proposta.   

As emendas estabelecem, entre outros pontos, que o governo britânico não poderá coletar taxas e tarifas para a União Europeia a não ser que o bloco concorde em fazer o mesmo para o Reino Unido.

Atualmente todos os países da União Europeia cobram tarifas unificadas para produtos que venham de fora do bloco. Após a saída do Reino Unido, porém, o país terá que estabelecer suas próprias regras. 

A proposta original de May era que bens que entrassem em território britânico tendo como destino um país da União Europeia fossem taxados segundo as regras europeias, mas ela não estabelecia o que aconteceria caso um produto com destino ao Reino Unido entrasse em um país do bloco. Assim, as novas emendas estabelecem que nestes casos os países do bloco terão que aceitar cobrar as taxas britânicas.

O grupo favorável ao “brexit” acredita que essa mudança não será aceita por Bruxelas, o que impediria que o acordo comercial entre os dois lados fosse fechado.

O governo, porém, disse que as emendas não alteram fundamentalmente a proposta original e que aceitá-las garante sua aprovação no Parlamento.  “Aceitamos as emendas porque acreditamos que elas são consistentes com a abordagem que estabelecemos e, em vários casos, reforçam algumas das mensagens que vieram na proposta”, disse o porta-voz da primeira-ministra.  

Apesar da defesa feito pelo governo, a decisão de aceitar as emendas sem contestá-las foi criticada pela oposição e até mesmo por membros do Partido Conservador. 

O deputado trabalhista Stephen Kinnock chegou a afirmar que com as mudanças no texto o plano original de May para o “brexit” estava morto -o que ela imediatamente negou. 

Representante da ala favorável a Europa entre os conservadores, o ex-secretário de Educação Justine Greening defendeu uma nova votação popular para definir a saída ou não do bloco -o plebiscito original que definiu o “brexit” foi feito em 2016.

O governo já afirmou diversas vezes que não aceitará uma nova eleição, mas para Greening essa é a única forma de resolver o impasse interno. Segundo ele, a atual proposta “é uma fraude que não se pode apoiar” e “une o pior de dois mundos”. 

Desde que o “brexit” foi confirmado, Londres e Bruxelas vem negociando a criação de um acordo para reger as relações entre os dois lados após a saída -prevista para março de 2019- mas até o momento nada foi fechado.