LUIS FERRARI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma das atividades esportivas que mais movimentam dólares e levam público aos eventos nos Estados Unidos, atrás apenas do futebol americano, as corridas da Nascar estão entre a cruz e a espada. A cruz de Santo André, da bandeira dos confederados, e a espada do departamento de Justiça da Carolina do Sul, que, na esteira do massacre de Charleston, propõe restrições ao uso do símbolo por sua atual conotação racista. A bandeira era um símbolo utilizado pelos Estados escravistas do sul do país que se rebelaram durante a Guerra de Secessão (1861-65). O debate em torno do uso da bandeira confederada ressurgiu após ela aparecer em diversas fotos do suspeito atirador de Charleston, Dylann Roof. Ele é acusado de invadir uma igreja frequentada por negros e matar nove pessoas. O crime teria sido motivado por ódio racial. A polêmica atinge em cheio o coração da base de fãs da principal categoria do esporte a motor nas Américas. Fundada em 1947 por Brian France, patriarca da família que até hoje controla o negócio, a Nascar (sigla para National Association for Stock Car Auto Racing) sanciona mais de 1.200 corridas em mais de 30 Estados dos EUA e outros países. Com uma capilaridade única em termos de esporte a motor no planeta, a organização se faz presente desde pequenos certames municipais a eventos grandiosos como a Daytona-500, a “All American Race”, cuja repercussão nos EUA rivaliza com as 500 milhas de Indianápolis da internacionalizada Fórmula Indy. O fato de a Daytona-500 ser praticamente desconhecida do leigo em esporte a motor não-americano, diferentemente da Indy500, 24 Horas de Le Mans ou GP de Mônaco, diz muito sobre o fenômeno Nascar. São corridas feitas, essencialmente, por americanos e para americanos. A categoria cultua sua origem fora da lei, honrando os pioneiros pilotos, que eram também contrabandistas de licor nas Carolinas do Sul e do Norte, vide “o último herói americano”, de Tom Wolfe. Foi também o último bastião da indústria do tabaco. Hoje o principal certame nacional leva direitos de uso de nome de uma operadora de telefonia celular, Sprint. Mas até mesmo na caricata versão infantil dos filmes da série “Carros”, o campeonato é chamado “Piston Cup”, o que remete a “Winston Cup”, nomenclatura que a competição teve entre 1972 e 2003, em alusão à marca de cigarros então patrocinadora. A presença do público nas corridas é um dos principais ativos da Nascar, com as reservas para as áreas no centro do circuito oval apresentando meses de fila de espera em alguns autódromos. Nessas áreas, a bandeira confederada é figura carimbada -às vezes hasteada acima inclusive do estandarte nacional. Não por acaso, na tarde de quarta (24), a Nascar emitiu uma nota oficial sobre o símbolo. Entre a cruz e a espada, exortou os fãs deixarem para trás o símbolo confederado -ao mesmo tempo em que reafirmou que encara a liberdade de expressão como um direito garantido a todos os cidadãos. Leia abaixo a íntegra da nota oficial: “Enquanto continuamos a lamentar as mortes trágicas da semana passada em Charleston, nós nos juntamos à nação no acolhimento das pessoas afetadas. A Nascar apoia a posição sobre a bandeira confederada manifestada na segunda-feira (22) pela governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley. Como nossa indústria trabalha coletivamente para garantir que todos os fãs sejam bem-vindos nas nossas corridas, a Nascar continuará com a sua política de banir o uso da bandeira confederada em qualquer estabelecimento oficial da Nascar. Reconhecendo que a liberdade de expressão é um direito inerente a todos os cidadãos, nós continuaremos a batalhar por um ambiente inclusivo em todos nossos eventos.”