Planetas e Deuses

No antigo mundo mesopotâmico, por volta do ano 8000 a.C. o homem vivia precariamente a céu aberto. Seu espírito era quase totalmente dominado por um mundo superior, de recursos aparentemente infinitos: trovão, relâmpago, calor abrasador, eclipses, os céus mantinham um reservatório imprevisível, espetacular e devastador, para além de qualquer coisa que o homem pudesse realizar por si. A ideia da superioridade celestial, de olhar para cima em busca de orientação, logo se tornou parte da vida cotidiana. Nesse estado primitivo, o homem não levava em conta a possibilidade de acidentes; tudo o que acontecia era posto em movimento por alguma força propositada. Para tudo que parecesse desafiar explicação, dentro do estreito alcance da sua experiência, era preciso determinar urgentemente uma fonte física, dar-lhe um nome e atribuir-lhe um raio de comportamento. Isso o fazia sentir-se menos vulnerável. O antigo símbolo sumeriano para a divindade é uma estrela. As estrelas que abundavam nos céus claros daquela parte do mundo são os verdadeiros fundadores da astrologia. Embora seu papel fosse visto como essencialmente passivo, coisa que ainda é, elas forneciam um pano de fundo altamente impressivo para a interação de outros corpos celestes. Mesmo hoje somos naturalmente conscientes de que o Sol e a Lua exercem uma forte influência física sobre a nossa vida. Para o nosso ancestral primitivo, essa influência deve ter sido uma questão de grande e misterioso significado. O Sol que o mantinha aquecido ou que desaparecia no frio crescente do inverno; o dia que se alternava com a noite; o mar que subia e descia com as marés. O homem dos tempos primitivos, com os sentidos acossados pelos misteriosos processos de crescimento e definhamento, o fluxo e o refluxo da ordem natural, inclinou-se naturalmente para uma explicação física do universo.

A intervenção dos planetas

Da perspectiva da Terra, as estrelas giram à nossa volta num padrão virtualmente imutável de um ano para o outro. Claro que os deslocamentos ocorrem constantemente, mas são tão leves que para os primeiros observadores as estrelas moviam-se pouco, se é que se moviam. O que eles notavam era o movimento relativamente rápido, contra o fundo estrelado, de sete corpos principais. O Sol e a Lua, que mencionamos. Os outros eram os cinco planetas visíveis, citados ora como “estrelas errantes”, ora como “cabritas”, e que conhecemos como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Nos registros mais antigos encontramos presente a idéia de que os planetas, assim como o Sol e a Lua, representavam deuses com o poder de dirigir a vida ou intervir nela. Na época em que as observações astronômicas eram levadas a cabo na Babilônia, o panteão dos deuses já estava bem estabelecido, cabendo a cada um o poder sobre uma área particular da experiência humana. Por exemplo, Mercúrio, deus veloz, astuto e bissexual, era tido com senhor de carta sabedoria calculista; Marte era o regente da violência e da guerra; Júpiter, um régio senhor dos homens; Saturno, visto como um sol no exílio, distante e em esfriamento, era cruel e irascível. Gradualmente, à medida que essas associações foram ganhando autoridade, foram se combinando para formar a base do saber astrológico.