A maioria dos estudantes sonha com profissões tradicionais como medicina, engenharia ou direito. Alguns poucos candidatos, entretanto, almejam uma vaga no curso superior de canto, oferecido em Curitiba pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap).

A formação é voltada para cantores com repertório lírico, de câmara e solo – que são os cantores de ópera. Como não existem escolas específicas para preparar artistas de ópera no Brasil, é comum que os futuros don giovannis busquem bacharelados como esse oferecido pela Belas.

Carreira — Os bacharéis em canto têm poucas oportunidades de trabalho em Curitiba. As opções restringem-se às esporádicas produções do Teatro Guaíra (que mal dão conta de pagar uma ajuda de custo aos profissionais), aos parcos editais públicos, ao elenco da Camerata Antiqua, ou ao ofício de professor – que acaba sendo a solução mais comum.

De acordo com a professora de canto da Belas, Josianne Dal Pozzo, “a maioria dos cantores, após atingir um bom nível técnico, muda-se para outros lugares. Quem opta por ficar em Curitiba se torna professor ou precisa arcar com suas produções”, diz ela, que é uma das organizadoras da série de concertos Opera in Concert.  
A soprano Luciana Melamed é um exemplo de artista curitibana que excursionou pelo exterior. Graduada pela Belas, a cantora morou em Salzburg, na Alemanha, onde fez mestrado em ópera na Universidade de Música e Artes Dramáticas Mozarteum. “Lá se respira música. As cantoras de ópera são reconhecidas na rua, não é como aqui”, diz. 

Sobre o curso austríaco ela diz ser inteiramente vivencial: “A maioria das disciplinas são práticas, é como se o curso acontecesse em um teatro. Além do repertório operístivo, eu tive aulas de técnicas corporais, teatro, dança e até esgrima”.
Formação em Curitiba — Esse tipo de aula é praticamente inexistente no curso paranaense. São somente duas as disciplinas voltadas à encenação: declamação lírica I e II. Uma falha considerável em um curso que se propõe a preparar artistas de ópera.
Esse profissional é mais que um cantor, precisa ter múltiplas capacidades além da voz. Do contrário, tem-se cantores muito preocupados com o grande momento da ária, mas que não sabem o que fazer com as mãos, ou que, pior, mantêm os olhos fixos no regente.