MARIANA ZYLBERKAN SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos de prisão por abusar sexualmente de pacientes em sua clínica de reprodução, conquistou o direito de cumprir prisão domiciliar. A decisão judicial foi confirmada pelo advogado de Abdelmassih, José Luis de Oliveira Lima. O médico cumpria pena em presídio em Tremembé (a 147 km de São Paulo) desde o fim de 2014.

Há mais de um mês ele está internado no Hospital São Lucas, em Taubaté (a 140 km de São Paulo), para tratar de uma pneumonia. O médico foi internado diversas vezes desde que foi preso por causa de problemas no coração. A doença foi justificada por sua defesa para pedir, desde o ano passado, o indulto humanitário, dado a detentos que não têm condições de serem tratados dentro da cadeia.

Abdelmassih ficou conhecido como “médico das estrelas” e chegou a ser considerado um dos principais especialistas em reprodução assistida do país, antes de ser acusado por dezenas de paciente por abuso sexual. O primeiro caso foi denunciado ao Ministério Público em abril de 2008, por uma ex-funcionária do ex-médico. Depois, dezenas de pacientes com idades entre 30 e 40 anos disseram ter sido molestadas quando estavam na clínica. As mulheres dizem ter sido surpreendidas por investidas do ex-médico quando estavam sozinhas -sem o marido e sem enfermeira presente (os casos teriam ocorrido durante a entrevista médica ou nos quartos particulares de recuperação). Três afirmam ter sido molestadas após sedação.

Em 2010, o ex-médico foi condenado em primeira instância a 278 anos de prisão pela série de estupros de pacientes. A pena acabou reduzida para 181 anos em 2014 por conta da prescrição de alguns crimes. Abdelmassih ficou foragido por três anos antes de ser preso e chegou a liderar a lista de procurados da Secretaria da Segurança de Pública de São Paulo. Ele foi localizado em agosto de 2014, em Assunção, no Paraguai, de onde foi deportado.

CRONOLOGIA

2006 Ex-funcionária relata à Promotoria ter sido beijada à força por Abdelmassih Jan.

2009 Folha de S. Paulo revela que o médico era investigado pela polícia, e mais mulheres dizem ter sido vítimas

Ago.2009 Abdelmassih é preso em sua clínica de reprodução, em área nobre de São Paulo Dez.

2009 STF concede habeas corpus e manda soltá-lo por entender que o médico não oferecia risco

Nov.2010 Ele é condenado a 278 anos de prisão por 48 estupros, mas decisão do STF o mantém livre

Jan.2011 Justiça determina prisão de Abdelmassih após ele tentar renovar seu passaporte

Jul.2014 São Paulo publica lista em que o médico aparece como um dos 10 mais procurados

Ago.2014 Depois de mais de 3 anos e meio foragido, Abdelmassih é preso em Assunção, no Paraguai

Out.2014 Justiça reduz sua condenação a 181 anos; ele não poderá ser solto antes de cumprir 30 anos.

Jul.2016 Ministério Público apresenta denúncia contra Abdelmassih sob nova acusação de atentado violento ao pudor. Outros 36 casos com prazo de prescrição vencido são arquivados.