TÁSSIA KASTNER SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A partir de abril, nenhum brasileiro poderá passar mais de 30 dias no rotativo, mas a obrigação de migrar clientes para outras linhas de crédito deve fazer com que bancos criem cartões com regras distintas. Todos os cartões obedecerão à nova norma do rotativo, mas as linhas e as regras de parcelamento poderão dar origem a produtos diferentes. Isso porque a determinação do Banco Central desta quinta-feira (26) obriga que os clientes terão obrigatoriamente que sair do rotativo.

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Para qual tipo de crédito os clientes serão migrados, porém, vai depender de cada instituição financeira. “O Banco Central não impõe a linha de crédito. Se ele disser que você ofereça essa linha, nesse prazo e dessa maneira, ele estará definindo o crédito no lugar do banco”, afirma Marcelo Noronha, presidente da Abecs (associação da indústria de cartões). Hoje o cliente pode pagar 15% da fatura e entrar no rotativo, parcelar a fatura, pagar integralmente ou ficar inadimplente.

Com a nova regra, os bancos poderão escolher para qual linha o cliente será direcionado e como será o parcelamento do saldo devedor. O mais provável é que a maioria dos clientes seja encaminhada para o parcelamento de fatura, hoje com taxas ao redor de 150% ao ano -a terceira mais cara do sistema financeiro, atrás do cheque especial e do rotativo. O que cada banco poderá mudar, no entanto, são as condições (número de parcelas) e as compras que entrarão no parcelamento. Isso pode encarecer ou baratear o custo da dívida.

Uma das propostas em estudo em um dos bancos ouvidos pela reportagem é oferecer ao cliente opções de parcelamento que incluam apenas o rotativo ou o rotativo e mais as compras realizadas naquele mês. Se o cliente não quiser escolher, uma das alternativas de parcelamento será compulsória, sem a inclusão das compras mais recentes. Parcelar as compras do mês poderá ajudar o cliente que está com o orçamento desequilibrado, mas fará com que ele pague juros sobre compras até então sem qualquer custo financeiro.

Noronha espera que, depois de o consumidor ser retirado pela primeira vez do rotativo de forma compulsória, os bancos sejam mais insistentes para que ele parcele sempre que estiver beirando o rotativo novamente. Hoje, os grande bancos já oferecem essa opção para usuários dos cartões. No entanto, há uma resistência no parcelamento, que aumenta a sensação de dívida de longo prazo. O que bancos não poderão fazer, diz o BC, é colocar parcelas da fatura no rotativo, caso o cliente volte a gastar mais do que consegue pagar mensalmente.

Hoje o mercado tem dois tipos de cartão com dinâmica diferente da tradicional. Os cartões Itaú 2.0 e o Digio, do banco CBSS, parceria do Bradesco e do Banco do Brasil. O 2.0 do Itaú oferece juros mais baixos, mas quem cai no rotativo paga encargos financeiros desde a data de cada compra, e não a partir do vencimento da fatura, como nos produtos tradicionais. Já o Digio é um projeto piloto e não oferece linha de crédito rotativo. Se o cliente não conseguir pagar a fatura integralmente, é obrigado a parcelar o débito. Do contrário, ele fica inadimplente e o cartão é cancelado.