A soja foi um investimento mais rentável do que as ações no mês de maio. Enquanto o retorno do Ibovespa foi de R$ 12,50 para cada R$ 100 aplicados na bolsa brasileira, quem apostou o mesmo valor da soja conseguiu embolsar R$ 3,00 a mais. Pode parecer pouco, mas em se tratando de ambientes onde as aplicações giram na casa dos milhões, essa pequena diferença pode ter um peso significativo. Na prática, os preços da soja negociada na Bolsa de Chicago acumularam no mês de maio uma valorização de 15,5%. O desempenho do grão supera o resultado positivo registrado pelo Ibovespa, que no mesmo período teve um ganho de 12,5%.

A rápida recuperação da soja é explicada por dois fatores. O primeiro dele está ligado aos fundamentos do grão. De forma reduzida, a procura está maior do que a oferta no mercado internacional, o que justificaria a alta dos preços em Chicago e que fez a cotação atingir no mês passado a marca de US$ 12,00 por bushel. A disponibilidade do grão, especialmente na América do Sul, teve uma forte redução, especialmente na Argentina. A expectativa inicial do país era de uma produção superior a 50 milhões de toneladas na safra 2008/09, mas deverão ser colhidas apenas 32 milhões de toneladas, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.

Aliado ao fator da oferta reduzida, a China tem mantido uma estratégia de fazer grandes aquisições de soja no mercado internacional. Isso tem feito com que os estoques mundiais, especialmente os americanos, apresentem uma forte retração. Em seu relatório do mês passado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu para 42,55 milhões de toneladas os estoques finais da safra 2008/09 no mundo. O volume é 19,8% inferior ao da safra 2007/08. No caso dos Estados Unidos, os estoques finais da safra deverão ficar em um dos menos níveis dos últimos cinco anos, com 3,53 milhões de toneladas, 36,7% menor do que na safra anterior.

Mas não são apenas os fundamentos que deram suporte aos preços da soja no mês passado. Os fundos de investimento e o fluxo de capital especulativo para as commodities, incluindo as agrícolas, é algo claro no mercado. “Os investidores estão indo para as commodities porque os juros americanos estão em zero, existe o risco inflacionário nos Estados Unidos e as commodities agrícolas ainda apresentam potencial de valorização”, afirma Vinícius Ito, analista da Newedge Corretora. Ele lembra que, apesar do ganho da soja em maio, outras commodities como o petróleo e as metálicas subiram ainda mais. “No ano, o ganho da soja ainda é modesto perto de outras commodities”, afirma.

A migração de recursos do mercado financeiro para as commodities agrícolas já fez com que a posição dos fundos em contratos de soja voltasse para um patamar anterior ao agravamento da crise financeira internacional, em setembro do ano passado. No relatório da Commodity Futures Trading Commission (CFTC) da última sexta-feira, os fundos de investimento mantinham 150.799 contratos comprados, o maior volume desde julho do ano passado. Além disso, os contratos de soja abertos na bolsa somavam 441 819 papéis, maior nível desde 15 de julho de 2008.