ESTELITA HASS CARAZZAI
CURITIBA, PR – Carro-chefe do novo Plano Diretor de São Paulo, o incentivo à ocupação perto do transporte público é aplicado há quase 50 anos em Curitiba, com bons resultados.
Pioneira da estratégia no Brasil, a capital paranaense tem hoje pelo menos quatro grandes avenidas que concentram comércio, serviços e residências nos bairros.
Grandes torres residenciais foram erguidas lado a lado, com galerias comerciais no térreo, de frente para a rua, por onde circulam pedestres.
Em alguns casos, as avenidas funcionam como “centros de bairros”, onde os moradores encontram tudo de que necessitam.
“Isso racionalizou a vida da cidade, deu mais conforto às pessoas”, diz o arquiteto Sérgio Póvoa Pires, presidente do Ippuc (órgão municipal de planejamento).
O adensamento tanto deu certo que, hoje, a maior demanda de transporte público em Curitiba está justamente nesses eixos. O plano agora é construir o metrô embaixo dos corredores para ônibus, que já estão superlotados.
Urbanistas afirmam, porém, que não há como prever se o resultado em São Paulo será satisfatório.
O processo de transformação desses eixos é lento e depende muito da reação e adesão do mercado imobiliário. “É um paquiderme”, diz Maria Luiza Marques Dias, professora da UFPR.
Em Curitiba, até hoje há áreas subutilizadas nos corredores. Em outras, valorizadas pelo mercado, os moradores são de alto poder aquisitivo e não necessariamente usam o transporte coletivo, como planejado.
O gigantismo de São Paulo é outra dificuldade.
No Paraná, o processo começou quando Curitiba tinha 600 mil habitantes e foi feito junto com a abertura das vias exclusivas para ônibus.
São Paulo, por sua vez, já tem eixos consolidados, terrenos caros e quase 12 milhões de habitantes. “É uma loucura. São seis Curitibas dentro dela”, diz Pires.
Para o urbanista Clóvis Ultramari, professor da PUC-PR, não se pode descartar a ideia, que é válida e funciona bem. “Mas é um processo lento e não necessariamente chega ao ideal proposto”, diz.
Ele e outros arquitetos defendem que a proposta seja complementada com outros mecanismos, como a racionalização dos recursos hídricos, o incentivo a soluções comportamentais e o uso de tecnologia para aumentar o conforto da população.
“Não há panaceia. É um conjunto de ações que tem que dar certo”, afirma Dias.