Foi numa tarde daquelas de sábado, na frente da minha pequena casa de campo, que antigamente se chamava de sítio, que decidi, com o olhar perdido em direção à mata da floresta que invade a janela do meu quarto, que não mais escreveria sobre política. Coisas dos homens, das relações de governo, são importantes, mas não nessa fase que estou passando, de ente reflexivo político para um observador espiritualista. Aliás, dizem que a idade nos leva ao fundamentalismo religioso. Isso, como sempre digo, pode ser perigoso no Oriente Médio, mas não aqui no meu sítio, nem nas minhas longas conversas com Deus.
Ao tomar conhecimento das tragédias que ocorreram no Japão, das cenas de fúria do mar, dos tremores da terra, no desespero das pessoas, e da perplexidade da humanidade diante do que mostrou o Breaking News, da CNN, descobri que minha vocação literária reflexiva religiosa me levaria a um profundo pensar sobre quais são as causas disso tudo. Sabemos que, de acordo com o Velho Testamento, no início os animais dos mais ferozes eram todos dóceis com Adão, em tudo havia uma harmonia, a paz reinava. Porque então a natureza hoje se porta tão agressiva quanto os animais ferozes que atualmente habitam as selvas? Seria, portanto, culpa do ser humano, como se pode concluir a partir do que os cientistas descrevem sobre o efeito estufa e outros conceitos vagos? Ou por trás daquela fúria da natureza existe, sim, uma resposta divina, incompreensível como o diagnóstico de uma doença terminal numa criança que mal começou a viver?
A grande verdade é que nascer e fazer parte daquilo que chamamos de vida nos põe diante da obra divina. Quanto mais a conhecemos, mais perplexos ficamos diante de tanta beleza e perfeição da obra de Deus da natureza. Observamos a capacidade destrutiva dessa mesma força natural e temos uma pequena noção do que poderia ser o desfecho cabalístico do fim da criação representado pela morte e destruição. Jamais chegaremos a uma explicação lógica, perfeita, e das científicas ainda prefiro as espirituais, religiosas, bem ao meu estilo filosófico da linhagem pensadora de Brauch Spinoza, em que, para se encontrar com Deus, é mister não entender seu comportamento instrumentalizado pela natureza, mas apenas contemplá-lo. E, como numa simples oração, descobrir que quem criou pode dispor da criatura, bastando assim apenas conciliarmos com algo superior, ou um mero olhar perdido tentando entender na beleza da floresta a tristeza do povo japonês, numa tarde debruçado na janela da casa do meu velho sítio…….

Fernando Rizzolo é advogado, e editor do Blog do Rizzolo -www.blogdorizzolo.com.br, [email protected]