George Soros aponta o aquecimento global como um dos principais problemas que o mundo deve enfrentar neste momento, mas essa ameaça é também, para ele, uma oportunidade de ganhar mais dinheiro. Dono de uma fortuna pessoal estimada em US$ 8,5 bilhões, ele decidiu participar no Brasil dos empreendimentos da Adecoagro, criada em 2002 na Argentina e atuante no mercado brasileiro desde 2004. A empresa comprou inicialmente fazendas no oeste da Bahia e no sudeste do Tocantins, para produzir algodão, café, soja e milho. Em seguida surgiu o projeto de investimento em etanol.
A primeira propriedade comprada para essa atividade foi a usina Monte Alegre, em Minas Gerais, que já processa anualmente 1 milhão de toneladas de cana. A segunda unidade do projeto é a usina de Angélica, em Mato Grosso do Sul, com capacidade para moer até 4 mil toneladas de cana. Os equipamentos estão sendo entregues e a operação poderá começar dentro de um ano.
O projeto será completado com a aquisição de terras em Ivinhema, no mesmo Estado. Quando o investimento, estimado em US$ 900 milhões, estiver completo, a empresa poderá processar 11 milhões de toneladas de cana. Com o etanol, a receita do grupo no Brasil poderá passar de US$ 125 milhões, hoje, para US$ 600 milhões em oito anos, segundo Marcelo Vieira, um dos sócios da Adecoagro.
Já se pensou na possibilidade de lançamento de ações, mas isso deverá ocorrer somente quando todo o projeto de etanol estiver concluído, informou Paulo Vieira, um dos diretores do empreendimento. No domingo, Soros visitou a unidade de Monte Alegre. Ele participa do projeto com recursos pessoais, sem envolver seu fundo de investimento. Seu interesse pelo etanol começou, segundo disse ao Estado, depois de assistir a palestras do ex-vice-presidente americano Al Gore sobre aquecimento global
Há, segundo Soros, uma crescente tomada de consciência do problema do aquecimento e isso tem mobilizado a opinião pública tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Ele não leva a sério, no entanto, a convocação internacional lançada pelo presidente George W. Bush para uma ação em defesa do ambiente. Bush, segundo Soros, “esta chutando o problema para a frente”, pois não pretende enfrentá-lo no que resta de seu segundo mandato.
Bush pode não ter mudado, mas o mundo empresarial, de acordo com Soros, vem exibindo uma nova atitude em relação ao tema do aquecimento global – até porque, segundo ele, a preservação ambiental oferece novas oportunidades de negócios.
Otimismo – De modo geral, Soros procurou mostrar otimismo em relação aos temas políticos e econômicos, durante a entrevista de ontem. Fez questão de chamar para isso, depois de criticar Bush e de falar sobre os riscos criados por sua política de combate ao terror. Seu otimismo decorre, em parte, da expectativa de que o governo americano será conquistado pelos democratas na eleição presidencial do próximo ano. Seu candidato neste momento, é o senador Barack Obama. Ele não considera, por enquanto, a hipótese de uma nova vitória republicana. Os republicanos, segundo ele, têm de ficar fora do poder por algum tempo para “ganhar alguma sanidade” e para livrar-se de seu “extremo dogmatismo”. “Mas eu penso que isso já está acontecendo”, acrescentou. As comunidades evangélicas que têm apoiado Bush têm-se afastado e mostram “crescente preocupação com a defesa dos direitos humanos”.
Populismo – Soros mostrou entusiasmo ao falar da situação econômica brasileira e citou o crescimento econômico latino-americano, mas apontou o perigo político do populismo, associado à permanência da pobreza. Grandes massas, segundo ele, ainda não experimentaram os benefícios da expansão econômica no continente. “Isso as torna suscetíveis à propaganda populista.”
Essa situação facilita a ação do presidente venezuelano Hugo Chávez, “que usa os rendimentos obtidos com o alto preço do petróleo para comprar apoio, internamente, no velho estilo clientelista, e também distribui presentes no exterior”, oferecendo, por exemplo, petróleo barato a países do Caribe.
Rodada Doha – Soros já defendeu em seus escritos a Organização Mundial do Comércio (OMC), por ele apontada como uma das poucas instituições multilaterais com capacidade para impor certa disciplina a seus associados. Mas a OMC poderá perder influência se fracassar a Rodada Doha de negociações comerciais. “Se isso ocorrer, é provável que os acordos bilaterais se multipliquem, o que não será uma boa tendência”. Isso também poderá resultar, segundo Soros, num aumento do protecionismo nos EUA.