GABRIELA MALTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Novas pesquisas têm mostrado que dormir muito -mais que nove horas- pode ser tão ou até mais prejudicial do que dormir pouco -menos que seis horas.
Um estudo publicado no periódico “Neurology” apontou que pessoas que relataram dormir mais do que oito horas tiveram aumento de 46% no risco de sofrer AVC, quando comparadas àquelas que relataram dormir de seis a oito horas.
Entre aquelas que relataram dormir menos do que seis horas, o aumento foi de 18% (estatisticamente não significativo, segundo os autores).
Os pesquisadores estudaram 9.692 pessoas entre 42 e 81 anos que não tinham sofrido AVC antes de seu relato.
Os mecanismos da associação entre dormir muito e os riscos à saúde ainda não são totalmente conhecidos, mas os pesquisadores acreditam que a necessidade de um longo período de sono pode ser um sinal precoce de desregulação no cérebro e risco de sofrer AVC no futuro.
Para Yue Leng, uma das autoras do trabalho, uma possibilidade é que essa desregulação esteja ligada a problemas no fluxo sanguíneo.
Estudos experimentais poderão explicar melhor essa relação, ainda desconhecida.
Em um comentário sobre o artigo, também na “Neurology”, Camila Hirotsu, pesquisadora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, faz a ressalva de que muitas pessoas tendem a superestimar seu período de sono -elas não dormem tanto assim.
Elas podem estar levando em conta, por exemplo, o horário em que vão para a cama, em vez do horário em que efetivamente pegam no sono.
Como a pesquisa americana se baseia em relatos, isso seria um ponto fraco dos dados. Além disso, parte dos dorminhocos pode ter apneia obstrutiva do sono, que é um fator de risco para doenças cardiovasculares.
A apneia é caracterizada por pausas respiratórias durante o sono que provocam pequenos despertares, não percebidos pelo paciente.
“A pessoa acorda irritada e sente sonolência durante o dia inteiro”, diz Mônica Andersen, professora da Unifesp. “O sono é interrompido, e, como a pessoa fica com sonolência muito grande, dorme em qualquer lugar que encosta. O tempo total de sono é até aumentado”, diz Camila.
Um estudo epidemiológico realizado em 2007 na cidade de São Paulo, com 1.042 pessoas que foram avaliadas por questionários e polissonografias, apontou que 33% dessa população tinha apneia obstrutiva do sono.
A apneia é, segundo Geraldo Lorenzi Filho, presidente da Associação Brasileira do Sono, o distúrbio do sono que mais acomete o sistema cardiovascular. Podem acontecer mais de 30 pausas por hora. Essa situação é perigosa porque obriga o coração a fazer mais esforço, e o estado de falta de oxigênio é muito deletério para o cérebro.
Outros estudos associam longos ou curtos períodos de sono com outras doenças, como diabetes e obesidade.
Alterações no sono são prejudiciais porque o sono é fundamental para o organismo. “É um momento de descanso, importante para a reorganização do cérebro”, diz Lorenzi.