Poucos sabem, mas o Brasil chegou a ter espaços semelhantes a campos de concentração durante a 2ª Guerra Mundial. Eram chamados campos de internamento. E não foi só um campo, mas 31, sendo que um deles ficava no Paraná, mais precisamente na Granja do Canguiri, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Hoje, o local é residência de campo do governo do Estado.
A exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, que também teve campos de internamento, o alvo principal não eram os alemães ou os italianos, mas os japoneses e seus descendentes. O livro Ayumi – caminhos percorridos, escrito pelo pesquisador Claudio Seto e a jornalista Maria Helena Uyeda, é até hoje um dos poucos registros dessa historia, contada por uma senhora japonesa que viveu no Canguiri e narrou ao pesquisador, quando ele ainda era vivo, a situação precária enfrentada na granja.
Essa etapa negra da historia do Brasil e do Paraná teve início em 1942, quando uma lei federal exigiu que todos os imigrantes que fizessem parte do Eixo fossem retirados da faixa litorânea e ficassem a pelo menos 100 quilômetros de distância do mar, por medida de segurança nacional. Havia o medo de que os japoneses pudessem fazer algum ataque no litoral ou conspirar contra o país, explica Maria Helena.
No dia 25 de setembro de 1942, a delegacia de Antonina retirou 85 imigrantes da cidade, sendo 53 japoneses, 10 alemães e 22 italianos. Inicialmente, os nipônicos foram levados para um barracão da chácara do Tozan (ex-chácara Midzuno), nas Mercês. Algum tempo depois, porém, caminhões do Exército buscaram os imigrantes e seus descentes que não conseguiram outro lugar para morar e os levaram para as estações agrícolas experimentais do governo, entre elas a Granja do Canguiri.
Os japoneses foram levados para trabalhar na produção agrícola e na criação de galinhas. As crianças, porém, foram separadas de seus pais e levadas para Castro. Segundo o governo, eram levados para serem educados, conta Maria Helena.
Com a separação de pais e filhos, fugir do campo de internamento se tornou uma tarefa quase impossível. Além disso, para poder viajar, eles precisavam de um salva-conduto, mas mesmo quem tinha tal documento não conseguia se locomover, já que o salvo-conduto ficava guardado na administração da granja.
Como se não bastasse o aprisionamento e o trabalho forçado, os japoneses ainda tiveram que lidar com o preconceito. É que uma campanha de arrecadação de sucatas de borracha ou metal tinha como prêmio um passeio na Granja do Canguiri, onde as famílias japonesas estavam alojadas em galpões rurais com o mínimo de infraestrutura, que anteriormente haviam sido ocupados por cavalos e bois.
Semanalmente chegavam vários estudantes premiados para ver a triste vitrine de demonstração de poder das autoridades paranaenses. Eles se divertiam fazendo gozações com os nipônicos e seus descendentes brasileiros. Invariavelmente os estudantes curitibanos, em atitude de chacota, ofereciam capim aos alojados com imitação de mugido, relincho e berro de bode, escrevem os autores no livro.


Escombros enterrados

A Escola Alemã/Colégio Progresso ainda funcionou por mais alguns anos, mas perdeu suas características embrionárias, ofertando apenas o ensino em português até o seu fim definitivo, em 1944.
No livro A Estrada do Poente, Regina retrata o fim melancólico da escola, que foi demolida por causa de um alargamento da Rua Barão do Serro Azul. Anos mais tarde, para que fosse possível preparar a Capital para a modernidade, foi inaugurada a Praça Dezenove de Dezembro (Praça do Homem Nu), em 1953, em comemoração ao Centenário de Emancipação Política do Paraná. Da escola, restam apenas a memória dos que ali estudaram.
As vezes parece que estão querendo enterrar o passado. É até simbólico, colocaram em cima obras de arte moderna. Parece que o Centro Cívico ccomeçou com o Passeio Público e a praça, não tinha até então nada na historia escrita sobre a escola, afirma a historiadora.


Curitiba teve Partido Nazista

O Brasil, pelo menos oficialmente, nunca aderiu ao nazismo, tendo inclusive lutado contra ele na 2ª Grande Guerra. Mas devido à forte presença de imigrantes alemães, foi inevitável a chegada dos ideais nazistas ao país, que teve o maior partido nazista fora da Alemanha, com 2,9 mil filiados em 17 estados brasileiros.
No Paraná, que nos anos 1930 contava com 12 mil alemães natos, o partido construiu sua sede em Curitiba e contava ainda com nove filiais no interior do Estado. Eram cerca de 200 militantes (mais da metade na Capital), o que deixou o estado em quinto entre os Círculos estaduais no Brasil.
Pouco tempo depois da decretação do Estado Novo, porém, o Partido Nazista no Brasil conheceu seu fim, já que foi proibida toda a atividade político-partidária aos estrangeiros. O Estado brasileiro passou a perseguir os nazistas (um professor da Escola Alemã, por exemplo, foi demitido por ter sido filiado ao partido) em 1938, o que se intensificou em 1942, com o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra ao lado dos Aliados.


Aeroporto Afonso Penna
O Aeroporto Afonso Pena, localizado em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, foi aberto em 1944. O local foi construído por meio de uma parceria entre o Ministério da Guerra brasileiro e o exército dos Estados Unidos para que funcionasse como um aeródromo militar e servisse de base para o exército Aliado na 2ª Guerra Mundial. A escolha do local do aeroporto, curiosamente, levou em conta aquele que pode ser considerado hoje um de seus maiores problemas: a neblina, que camuflaria as operações np Atlântico sul, caso a guerra se ampliasse.


Exposição mostra réplica das bombas de Hiroshima e Nagasaki
Professores e técnicos dos cursos de Engenharia e Design da Universidade Positivo (UP), de Curitiba, recriam réplicas exatas, em escala real, dos combustíveis de Urânio e Plutônio das bombas que mudaram os rumos da história e abrem uma exposição que retrata o maior genocídio da humanidade. A abertura da Exposição “70 anos de Hiroshima e Nagasaki” acontece às 8h15 de hoje, no Bloco Vermelho da UP. O horário da abertura da exposição é a mesma da explosão em Hiroshima. Mais de 200 mil pessoas morreram nas duas cidades, seja no momento das explosões, ou em decorrência da radiação nos anos seguintes.