MARIANA CARNEIRO BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A presidente Cristina Kirchner abriu uma nova crise com o governo dos EUA, a pouco mais de dois meses do fim de seu mandato como presidente da Argentina. Em discurso na ONU, na última segunda (28), Cristina havia acusado os americanos de protegerem um espião argentino, que o governo acusa de ter passado informações supostamente falsas ao promotor Alberto Nisman. Morto em janeiro deste ano, em um caso ainda sem explicação, Nisman acusava a presidente Cristina Kirchner e aliados de protegerem suspeitos iranianos por um atentado a bomba em Buenos Aires, em 1994. A chancelaria argentina convocou o embaixador americano em Buenos Aires, Noah Mamet, para receber oficialmente as queixas do país contra os EUA. Na terça (29), em entrevista ao canal C5N, simpático ao governo kirchnerista, Cristina acusou o governo de Barack Obama de dar guarida ao ex-espião Antonio Jaime Stiuso. “Sabemos que ele está aqui e não nos deram nenhuma explicação”, afirmou Cristina em Nova York. “Os EUA são muito rigorosos. Se você não trabalha, não pode ter um visto de permanência de mais de seis meses. Ou seja, em que qualidade ele está [no país]?”, questionou a presidente. Segundo o governo, a embaixadora argentina nos EUA, Cecília Nahón, pediu oficialmente informações sobre o paradeiro de Stiuso há semanas e não recebeu respostas. Nesta quarta (30), a Argentina pediu e a Interpol levantou o alerta azul na busca de Stiuso. Essa bandeira busca localizar uma pessoa considerada suspeita, mas não determina sua captura. ESPIÃO Personagem controverso, Stiuso trabalhou no serviço secreto argentino por 43 anos. Durante o governo kirchnerista, foi diretor da extinta Side, secretaria de inteligência. A crônica política argentina diz que ele era próximo do ex-presidente Néstor Kirchner, a quem entregava escutas telefônicas de inimigos políticos. Foi Kirchner que apresentou Stiuso a Nisman, a quem encarregou a tarefa de investigar o maior atentado ocorrido na Argentina: a explosão da entidade judaica Amia, em 1994. Stiuso, porém, rompeu com o governo e foi afastado da secretaria de inteligência em dezembro do ano passado. Aliados do governo acreditam que ele teria passado provas supostamente falsas a Nisman por vingança. Desde a morte do promotor, Stiuso foi acusado em processos que investigam suposto enriquecimento ilícito, contrabando, espionagem ilegal e ocultação de provas. Em nenhum dos processos foi condenado.