Levantamento realizado pela Secretaria Municipal da Saúde mostra que até 40% dos usuários de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 Horas de Curitiba vêm de municípios vizinhos. O impacto é mais sentido nas UPAs Boa Vista e Matriz, onde entre 30% e 40% do total de atendimentos são para usuários de outros municípios, principalmente Colombo e Almirante Tamandaré. Considerando a média das nove UPAs da cidade, pelo menos 10% da demanda é resultado de busca direta por moradores da região metropolitana. Em média, são 91 mil atendimentos por mês, dos quais cerca de 9 mil de outras cidades.

O gasto mensal médio da Prefeitura de Curitiba com atendimento a usuários de outros municípios nas UPAs é de R$ 1,5 milhão. O valor seria mais do que suficiente para cobrir o custo mensal de manutenção de um equipamento do porte da UPA Matriz, localizada junto ao Hospital de Clínicas, no Centro, que é de R$ 1,3 milhão. A UPA Boa Vista, por sua vez, custa à Prefeitura de Curitiba R$ 2 milhões por mês.

É possível verificar que o problema não se concentra apenas na falta de estrutura para atendimento de urgência e emergência. Grande parte dos moradores de outros municípios recorrem às UPAs de Curitiba por problemas que poderiam ser resolvidos nas unidades básicas de suas cidades, como gripes, resfriados, dor lombar, analisa o secretário de Saúde de Curitiba, Cesar Titton. A pesquisa revelou que 85% dos pacientes residentes em outros municípios chegam com queixas desse padrão, para os quais o local de atendimento recomendado é a unidade básica de saúde.

Nas UPAs Cajuru, Campo Comprido e CIC, o fluxo de pacientes de outros municípios gira entre 10% e 15% do volume total de atendimentos.

Classificação

No diagnóstico geral, Colombo é o município de onde mais vêm usuários para Curitiba. Financeiramente, significa para a Prefeitura de Curitiba um investimento médio mensal de quase R$ 500 mil só com moradores de Colombo. O músico Josué Marcos de Souza, que mora no Jardim Osasco, em Colombo, recorreu à UPA Boa Vista, na semana passada, em busca de atendimento para o filho, de 10 anos, que estava com o ouvido infeccionado, e a neta, de 1 ano e 4 meses, com resfriado. Falta investimento. Se o serviço perto da minha casa estivesse funcionando bem, não precisaria vir até aqui. Mas passei na UPA de Colombo e vi que não seria atendido se esperasse lá, argumenta.

Almirante Tamandaré, que vem em segundo lugar, representa um investimento mensal de R$ 240 mil. Pinhais é o terceiro colocado em demanda, com um gasto de R$ 184 mil/mês.

Nos custos, estão computados todos os insumos utilizados (materiais médicos, de higiene, alimentação dos pacientes, taxas de água, luz, entre outros) e ainda os gastos com a equipe profissional (médicos, equipe de enfermagem, profissionais da limpeza e manutenção, etc).

Para custear as nove UPAs, a Prefeitura de Curitiba gasta mensalmente cerca de R$ 15,7 milhões. A única contrapartida vem do Ministério da Saúde, num total de 2,1 milhões/mês. Esse repasse é regulamentado pela portaria 342/2013 do Ministério, conforme o porte de cada Unidade de Pronto Atendimento. UPAs porte III (destinadas a atender um público de 200 mil a 300 mil habitantes e categoria da maioria das UPAs de Curitiba), por exemplo, recebem do Ministério R$ 250 mil/mês. Já a porte II (para uma população de 100 mil a 200 mil habitantes) tem um repasse de R$ 175 mil. Curitiba não tem nenhuma UPA porte I (para atender populações de 50 mil a 100 mil habitantes, cujo repasse mensal é de R$ 100 mil).

A portaria prevê que uma UPA porte III tenha seis médicos no período diurno e três no período noturno. Em Curitiba, sempre trabalhamos com um número superior a esse para dar conta da demanda. Um custo bancado exclusivamente pela Prefeitura, destaca Titton.

Titton informa que o problema vem sendo debatido com os municípios vizinhos, uma vez que a pressão gerada por esta demanda externa reflete diretamente no atendimento à população residente em Curitiba e acarreta custos insustentáveis à Prefeitura. Ninguém quer ter que sair da sua cidade para buscar atendimento médico. Isso só acontece quando o sistema local não absorve a necessidade de seus pacientes. Não vamos deixar de atender quem chega às nossas unidades, mas é importante lembrar que, para constituir a rede de urgência e emergência, existem responsabilidades das três esferas de governo – municipal, estadual e federal –, principalmente na reformulação da política e na construção de uma articulação regional efetiva, comenta.