A Casa da Mulher Brasileira, espaço que vai atender mulheres em situação de violência em Curitiba, tem mãos femininas em sua construção. Estão trabalhando na obra 85 operários, dos quais duas mulheres, Rose e Sara, que emprestam delicadeza e competência ao acabamento do prédio.

Sara Ribeiro, de 33 anos e três filhos, é azulejista e pintora de parede. Há quatro anos ela decidiu deixar de ser recepcionista em um salão de beleza e foi seguir a carreira do pai, que era pedreiro. Encorajada por uma amiga, que trabalhava na área, foi ser servente de pedreiro. Não sabia nada, aprendi na obra. Fiquei lá por dois anos e meio e depois fui buscando coisa melhor. Hoje ganho quatro vezes mais do que ganhava no salão, diz.

Ela conta que quando foi procurar trabalho na obra da Casa da Mulher Brasileira pensou que lá seria um estabelecimento comercial, como um supermercado ou um depósito. Mas quando ficou sabendo que seria um lugar que abrigaria a mulher que sofre violência doméstica, disse que iria caprichar mais e que trabalha com mais satisfação. 

Já trabalhei na construção de casas populares do programa Minha Casa Minha Vida que também fiz com muito capricho. Ficava muito triste quando alguém chegava para mim e dizia que não precisava caprichar. Pelo contrário, como sabia que ali iriam viver pessoas mais simples, muitas carentes, é que eu decidi caprichar mais ainda, queria um serviço de boa qualidade, conta Sara.

Ao lado de Sara, trabalha também, assentando piso, Rosinéia Aparecida Maximiano, de 34 anos, um filho de 9 anos. Moradora de Colombo, região metropolitana de Curitiba, onde não há delegacia da Mulher, viveu por sete anos com um marido violento. Ela conta que vivia duplamente a situação de violência, pois era mau tratada na delegacia. Os policiais me diziam que eu era a culpada e me perguntavam por que eu ainda estava com ele, e outras coisas que se eu contar ninguém acredita. Tinha que implorar para fazer um boletim de ocorrência, afirma. Ela contratou um advogado para conseguir as medidas protetivas. O ex-marido faleceu há dois anos.

Rosinéia trabalhou muitos anos como diarista e nos fins de semana construía a casa onde mora. Fazia de tudo, bati massa, fiz paredes, a cobertura e assentei o piso, orgulha-se. Segundo ela, como não tinha experiência, teve de aprender sozinha, praticamente. Depois de ver sua casa construída, decidiu que poderia sim, mudar de profissão. Ela afirma que gosta do que faz e que trabalha feliz, de segunda a sexta e, no sábado, ainda é diarista de uma das patroas que não conseguiu abandonar. Como diarista conseguia um salário que dava para sobreviver, mas viu na construção civil uma melhor oportunidade.

Rosinéia também ficou feliz ao saber que está ajudando a construir a Casa da Mulher Brasileira. Espero que aqui elas sejam mais bem tratadas, que tenham seus direitos respeitados e que se faça justiça, porque só eu sei o que passei, afirma

O trabalho dessas duas mulheres é bastante elogiado pelo engenheiro civil Lucas Dias, responsável técnico pela obra. A vantagem delas é que são mais cuidadosas, mais detalhistas, quando comparadas aos homens que fazem o mesmo trabalho. Elas são mais caprichosas”, diz. Outro ponto positivo, segundo o engenheiro, é que elas aceitam mais as orientações e sabem ouvir.

As histórias de vida dessas duas mulheres são parecidas com as das que serão atendidas na casa, observa a secretária da Mulher, Roseli Isidoro ,que esteve visitando a obra na semana passada, quando conversou com elas.

A Casa da Mulher Brasileira está sendo construída na Avenida Paraná, ao lado do terminal de ônibus do Cabral, e abrigará a Delegacia da Mulher e núcleos do Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, do Ministério Público Estadual, e da Defensoria Pública do Paraná. O espaço contará com profissionais da área de psicologia, assistência social e da educação e ainda, com uma equipe de orientação na área de emprego, geração de renda, empreendedorismo e acesso ao microcrédito. Também haverá espaço para abrigamento e brinquedoteca.

A Casa vai funcionar por meio de parcerias entre a Prefeitura de Curitiba, por meio da Secretaria da Mulher, com o Tribunal de Justiça, Ministério Público do Paraná e Polícia Civil. Nos dois primeiros anos, os recursos para custeio virão do governo federal, por intermédio do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.