As histórias de perseguição contra bruxas e supostas feiticeiras costumam remeter à Idade Média, época em que a sociedade que era muito oprimida por regras sociais e por imposições da Igreja. Mas não faz tanto tempo assim que Curitiba também caçava aqueles com religiões e culturas diferentes da pregada pelo Vaticano.

Prova disso é que em 23 de janeiro de 1775 o ouvidor da Comarca de Paranaguá, Antonio Barbosa de Matos Coutinho, lançou um edital na Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba para avisar que haveria uma devassa geral para inquirir testemunhas sobre alquimistas, benzedeiras, feiticeiras e pessoas com pacto com o diabo, dentre outros crimes.
Os documentos históricos do Arquivo Público do Paraná, analisados pela advogada Danielle Regina Wobeto de Araujo, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apontam que a devassa resultou na denúncia de duas mulheres, mãe e filha. Entre 1763 e 1777, período estudado pela pesquisadora, a cidade teve 560 processos, sendo 60 contra mulheres e dois deles por feitiçaria.

Um dos denunciantes das rés foi o escrivão da Cãmara Municipal, que até a Independência do Brasil, em 1822, era responsável pelas investigações e julgamentos. Acusava-se as duas de terem feito feitiços e pacto com o diabo. A mãe, Francisca Rodrigues da Cunha, tinha cerca de 60 anos, enquanto a filha, Luiza Rodrigues da Cunha, declarou ter 23 anos.
Os registros apontam que as mulheres eram indígenas, da nação Carijó, e estavam descalças no dia do julgamento. O marido e pai das acusadas de feitiçaria, de acordo com o processo, era escravo do hospício. Outra denunciante, Romana Álvares Teixeira, falou que elas tinham matado seu marido com um feitiço e seduzido juízes para escapar do processo. Também teriam sacrificado bichos e aleijado uma pessoa, relata Danielle.
A defesa, contudo, conseguiu a absolvição das rés, apontando que um dos acusadores queria era vingança diante do fato da jovem de 23 anos ter recusado se casar com ele. Outra justificativa apresentada para pedir a absolvição foi que as rés haviam recebido educação católica. Presas desde 6 de fevereiro de 1775, mãe e filha foram absolvidas pelo ouvidor Coutinho no dia 22 do mesmo mês, por falta de provas.