De cada dez consultas com especialistas ou exames agendados em Curitiba pelo sistema municipal de saúde, em três o paciente não aparece e nem dá notícias. É o fenômeno do absenteísmo, que pressiona o sistema fazendo aumentar as filas e o tempo de espera, provocando enormes prejuízos para o município.

Usuário melhora e se dá alta por conta”, dizem autoridades de saúde

Para se ter noção do tamanho do problema, anualmente são agendados na rede municipal aproximadamente 400 mil consultadas especializadas e mais de 350 mil exames (dados de 2015). Desses 750 mil procedimentos, aproximadamente 225 mil acabam não sendo realizados porque o paciente não compareceu, já que a falta de comunicação prévia sobre a desistência impede que o serviço chame outro paciente para a consulta.

Esquecimento, tempo de espera na fila e mesmo falta de recursos para o transporte são alguns dos motivos para o fenômeno, segundo Marcia Huçulak, superintendente de Gestão em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Temos muitos casos em que o paciente melhora e aí não resolve mais ir para a consulta, ou mesmo casos em que o paciente afirma que não tinha dinheiro para o transporte ou, no caso das pessoas de idade, não tinha quem levasse, pudesse acompanhar.

Mais que tudo isso, porém, pesa o descaso do cidadão. É que as unidades de saúde, tão logo marcam a consulta, entregam ao paciente um papel chamado referência, nos quais constam informações como horário, dia e local para a consulta. Antes do dia agendado, os profissionais da saúde ainda ligam para o paciente para lembrá-lo e confirmar o agendamento. Não são poucos, porém, os pacientes que chegam a confirmar a consulta, mas na hora H não dão as caras.

A pessoa diz ‘tudo bem’, confirma a consulta e mesmo assim não comparece. Poucos são os que vão e pedem para desmarcar, afirma Marcia Huçulak. As pessoas cobram muito da Saúde, mas dão muito pouco. Elas precisam entender que aquilo é um recurso dela também, que eu não vou usar, mas alguém pode estar precisando. Que o hospital que ficar com o médico vai pagar por horário, independente se faz 10 ou 20 consultas. Isso tudo é ruim para o sistema, complementa.

 

Usuário melhora e se dá alta por conta”

Não é só os pacientes, porém, são os culpados pelo absenteísmo. Segundo Marcia Huçulak, superintendente de Gestão em Saúde d aSecretaria Municipal de Saúde, o próprio exercício da medicina pode ser responsabilizado pelo impacto das ausências em procedimentos médicos. Algo que já identificamos é que muitos pacientes não foram (para a consulta) porque não precisariam ir para o especialista. Em alguns casos a indicação não é muito preciosa, ou paciente melhora e quando chega a consulta, falta.

Ainda segundo a especialista, os pacientes com condições graves, em geral, não perde a consulta ou o exame. Os pacientes que deixam de ir em geral é porque não precisava ou a indicação não é muito precisa. Dificilmente alguém com uma dor aguda, que tenha uma urticária, não vai para a consulta. Se absteram de ir é porque tinha melhorado, já está melhor, e não precisava do encaminhamento.

Embora seja um direito de todos, a Saúde é também um dever de todos. Para Marcia Huçulak, falta uma maior consciência disso, dessa corresponsabilidade, por parte dos usuários do sistema público de saúde.