O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presta nesta quarta-feira (10) depoimento ao juiz federal Sérgio Moro em Curitiba, em meio a um clima de guerra e final de Copa entre seus aliados e os apoiadores da operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras. De um lado, PT e movimentos sindicais e sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra prometem mobilizar mais de 30 mil pessoas nas ruas da Capital paranaense em apoio a Lula. Do outro, os partidários do juiz responsável pelo processo pretendem reunir um contingente semelhante em defesa da operação e da punição do petista.

Nesta terça-feira (9), os primeiros ônibus de caravanas organizadas pelos defensores do ex-presidente chegaram à cidade, vindos de várias partes do País. A estimativa é que 700 ônibus cheguem à cidade até a manhã de hoje. E apesar da decisão da Justiça que proibiu acampamentos em praças e ruas curitibanas, eles armaram uma ocupação em um terreno ao lado da Rodoferroviária. Ao todo, a Secretaria de Segurança Pública espera que mais de 50 mil pessoas participem de manifestações na cidade durante o dia.

Para tentar evitar confrontos, a Justiça também determinou o bloqueio das ruas próximas à sede da Justiça Federal no bairro do Ahu, sede da Lava Jato, em um raio de 150 metros. Só moradores, comerciantes, funcionários de empresas da região e veículos cadastrados e a imprensa credenciada poderão ter acesso ao local.

Além disso, as autoridades também decidiram separar os manifestantes em locais diferentes, reservando a área central da capital para os apoiadores de Lula, e o Centro Cívico para os defensores da Lava jato.

Na noite de segunda-feira, em palestra para empresários, o juiz Sérgio Moro voltou a pedir que os apoiadores da Lava Jato evitem ir para as ruas. É melhor que seja um jogo de uma torcida única, se as pessoas querem sair a rua e manifestar apoio ao investigado. Eu digo isso com tranquilidade, porque eu não faço parte do jogo, defendeu. O fato é que esse interrogatório é meramente uma oportunidade que o acusado tem de se defender do processo. Do outro lado, é também importante deixar bem claro, não é um confronto. O processo não é uma guerra, uma batalha, uma arena. Ali são acusação e defesa. O juízo não é parte nenhuma dentro desse processo, argumentou Moro.

Convocação

Já a direção nacional do PT divulgou nota convocando os militantes a apoiarem o ex-presidente. O ex-ministro Gilberto Carvalho (PT) divulgou um vídeo pedindo que os petistas viajassem a Curitiba para acompanhar o depoimento. Curitiba não é propriedade dos coxinhas, afirmou.

O clima é um clima de paz. Ao contrário do que andaram dizendo por aí, nós viemos com as mãos estendidas para o povo curitibano, que sabe que vai receber aqui não baderneiros, mas lutadores de seus direitos, diz o ex-ministro, que gravou a mensagem já na capital paranaense.

Será a primeira vez que Lula e Moro se enfrentam pessoalmente. O depoimento está marcado para às 14 horas. Depois da audiência, o ex-presidente era esperado pelos movimentos sociais para um ato público na Boca Maldita, centro da cidade, mas a assessoria do petista não confirmou sua presença. Na ação, ele é acusado de receber R$ 3,7 milhões em propina da empreiteira OAS por meio das reformas de um apartamento triplex no Guarujá, litoral de São Paulo, e de um sítio em Atibaia, no interior do estado. A defesa do ex-presidente nega que ele seja dono dos imóveis. 

Lula tem atribuído as acusações a uma tentativa de impedi-lo de concorrer novamente à presidência nas eleições de 2018.

Presença em ato é dúvida

Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não descartam a possibilidade de ele participar de um ato público em Curitiba, na noite de hoje. Segundo pessoas próximas a Lula, a decisão será tomada apenas após o depoimento à Justiça Federal. Não está descartada a hipótese, mas o ex-presidente só vai decidir sobre isso depois do depoimento, disse o ex-ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República na gestão Lula, Gilberto Carvalho, um dos seus principais interlocutores.
Para Carvalho, a principal preocupação é evitar que o interrogatório se transforme em um ato político. Vamos fazer disso um ato de solidariedade a Lula e um debate político contra as reformas, disse. O presidente Lula vai decidir só depois do depoimento essa questão. Vai ser analisada por ele e seus advogados no momento oportuno, completou o deputado Paulo Pimenta (PT). A Frente Brasil Popular, que organizou vigílias na noite de ontem e durante toda o dia de hoje, pretende concentrar a militância em frente à Catedral de Curitiba, na Praça Tiradentes. Fizemos o convite a Lula. Vamos ver se ele aparece, disse o coordenador da Frente, Raimundo Bonfim.