Nos últimos dias, a questão das drogas, em especial o vício em crack, voltou às manchetes de jornais de todo o país após a revelação do caso de Andreas, irmão de Suzane von Richthofen, e as polêmicas ações da Prefeitura de São Paulo na região da Cracolândia. Não é só na capital paulista, porém, que a epidemia das drogas vem causando estragos. No Paraná e em Curitiba, o número de flagrantes de consumo e uso de drogas bateu recorde em 2016.

De acordo com os relatórios estatísticos da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-PR), foram 12.310 ocorrências registradas no ano passado no Paraná, das quais 2.509 em Curitiba. O número representa um aumento de 71,3% no número de registros no estado e de 49,4%% na Capítal na comparação com 2012, primeiro ano da série histórica, quando haviam sido 7.187 e 1.680 registros, respectivamente.
Segundo a psicóloga Flávia Adachi, coordenadora de saúde mental da da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a alta no índice de ocorrências pode significar também um crescimento no número de usuários. Vemos um avanço. É um problema grande que temos enfrentado e estamos encontrando entre adolescantes uma taxa de uso maior, aponta a especialista. As portas de entrada são drogas absolutamente aceitas, como o álcool e o tabaco, complementa.

Por conta disso, Adachi diz que já não é suficiente pensar apenas no adoecimento, mas também na prevenção, com atuação incisiva dentro das escolas e também por parte das famílias. Desde 2012, segundo dados do Ministério da Saúde, 57.437 paranaenses foram internados por conta de transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substâncias psicoativas, com especial destaque para o álcool e o fumo e custo de R$ 72,4 milhões aos cofres públicos.
Assim, para lidar com o problema, ao longo das últimas décadas – e especialmente a partir da promulgação da Lei 10.216 de 2001, que trata da reforma psiquiátrica – os serviços e profissionais da saúde têm mudado a forma de ver e tratar a questão do vício.
Tem questões muito amplas, envolvendo aspectos familiares, de trabalho, e os próprio adolescentes, que estão em situação mais vulnerável, de bullying. Por isso que o tratamento voltado à questão da dependência química hoje está pautado não na droga, mas em trazer nova perspectiva ao indivíduo. Trabalhamos as dificuldades dele, como inserção no mercado de trabalho, problemas familiares. Com isso tiramos a droga do foco e priorizamos o sujeito, aponta Adachi.

Curitiba consegue reduzir taxa de abandono de tratamento

Em Curitiba existem atualmente mais de 150 mil usuários de álcool e drogas, sendo que entre 2013 e 2015 aproximadamente 8% dessa população (o equivalente a 12 mil pessoas) procurou a rede de atendimento em busca de tratamento. Grande parte, porém, não teve sucesso, tamanha a dificuldade no combate ao vício – nos Centro de Atenção Psicossocial para álcool e drogas (CAPSad), cerca de 45% das altas eram por abandono do tratamento.
Dois anos depois, porém, o cenário melhorou consideravelmente. Segundo Flávia Adachi, hoje a taxa de abandono fica na casa dos 25%, sendo que boa parte daqueles que largam o tratamento acabam voltando tempos depois.
O usuário de substâncias oscila muito, então a taxa fica em torno de 25%, mas não é um abandono que nunca mais volta. Ele deixa por algum motivo e depois busca novamente o serviço, já que o Caps (Centro de Atenção Psicossocial, por ser porta aberta, permite que ele retorne, diz a psicóloga Flávia Adachi. E por vezes ele não se vincula na primeira vez, mas na outra vem num momento em que está mais preparado, se sente melhor e consegue seguir com o tratamento, finaliza.

Epidemia afeta maioria dos municípios do Estado

Dos 399 municípios paranaenses, pelo menos 346, enfrentam problemas relacionados à droga, o que corresponde a 86% das cidades do Paraná. Os dados são do mapeamento do Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM), o qual revela ainda que 93 municípios do estado sofrem com problemas graves relacionadas com a droga, enquanto outros 164 apresentam problemas de nível médio. Apenas 16 cidades do Paraná, segundo a CNM, não apresentam problemas com o crack. O detalhe é que 37 cidades, entre elas Curitiba, não responderam o questionário.
A Confederação também mapeou a rede de apoio aos usuários nos Estados e os números não são nada animadores. No Paraná, apenas cinco dos 399 municípios têm Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e somente 28 cidades do Paraná tem Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD), contra 371 sem a estrutura. No caso de Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), apenas duas cidades das 399 possuem este tipo de atendimento.

Uso e consumo de drogas

CURITIBA
2016 2.509
2015 2.636
2014 2.035
2013 1.839
2012 1.680

PARANÁ
2016 12.310
2015 11.849
2014 10.966
2013 8.861
2012 7.187

Internações relacionadas a drogas
BRASIL
2012 104.203
2013 95.296
2014 89.909
2015 81.054
2016 74.019

PARANÁ
2012 14.458
2013 12.813
2014 10.671
2015 9.664
2016 9.831

Mortes relacionadas ao consumo de drogas
PARANÁ
1996 311
2015 658
Total (1996-2015) 9.978