SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Mianmar demoliu ao menos 55 vilarejos rohingyas no norte do Estado de Rakhine, afirmou nesta sexta (23) a Human Rights Watch a partir de uma análise de imagens de satélite. A agência de notícias Associated Press, que analisou as imagens, confirmou pelo menos 28 vilas destruídos com máquinas pesadas em um raio de 50 quilômetros da cidade de Maungdaw entre dezembro e fevereiro.

Como o governo birmanês não permite a entrada de jornalistas ou de organizações independentes na região, as imagens de satélite têm sido usadas para mesurar a destruição causada pela onda de violência contra a minoria muçulmana, que a ONU já chamou de “limpeza étnica”.

Os rohingyas são alvos desde agosto de uma operação militar na região que já deixou milhares de mortos e obrigou 688 mil deles a fugirem para o vizinho Bangladesh, deixando os vilarejos onde moravam vazios. Muitos também narraram episódios em que foram expulsos a força de suas casas, além de casos de estupros e incêndios criminosos. Segundo a Human Rights Watch, as demolições foram feitas para destruir provas dos crimes contra a minoria.

“Muitos destes vilarejos foram cenários de atrocidades e deveriam ser preservados para que os especialistas indicados pela ONU para documentar estes abusos possam avaliar adequadamente os indícios para identificar os responsáveis”, disse Brad Adams, diretor da Human Rights Watch para a Ásia. Especialista em Mianmar da organização, Richard Weir descreveu o cenário das imagens como de destruição completa, no qual mesmo a vegetação foi arrancada. “Tudo foi tirado, e isso é alarmante porque essas são cenas de crime. Então o que realmente estamos falando é de obstrução da Justiça.” Segundo a Human Rights Watch, 362 vilarejos foram atacados desde agosto. Desde dezembro, diversas destas vilas, e ao menos duas antes intactas, foram destruídas. Os dois assentamentos, na área conhecida como Myin Hlut, foram eliminados entre 9 de janeiro e 13 de fevereiro.

“Tudo se foi, nem as árvores sobreviveram”, disse uma mulher rohingya de 18 anos, que se identificou como Zubairia, à Associated Press. O governo birmanês disse que a demolição faz parte de um plano para reconstruir a região após a onda de violência. Myint Khine, do governo de Maungdaw, disse que novas casas estão sendo construídas no local e que elas irão abrigar muçulmanos –as autoridades de Mianmar não usam o termo “rohingya” Uma lista publicada pelas autoridades em dezembro, porém, aponta que a maioria das 787 casas eram para budistas ou hindus. Apenas 22 iriam para “bengalis” –um dos termos usados pelo governo para se referir à etnia.