A hepatite C  representa um importante problema de saúde pública pois é uma doença silenciosa com alta chance de evolução para a forma crônica e suas complicações como cirrose hepática e câncer de fígado. Estima-se que mais de 2 milhões de pessoas no Brasil estejam infectadas pela  hepatite C, ou seja, 1,2% da população, sendo que a grande maioria desconhece a sua situação. O retardo no diagnóstico aumenta o risco das complicações, diminui a chance de resposta ao tratamento e aumenta o risco de novas contaminações/transmissões. O diagnóstico precoce permite que as pessoas recebam aconselhamento quanto a mudanças nos hábitos de vida, como a diminuição do consumo de álcool e controle de doenças associadas como obesidade e diabetes e recebam vacinas para prevenção de outras doenças, como hepatite A e hepatite B.
Para diagnosticar hepatite C deve-se realizar o exame de sangue especifico; exames comuns não detectam a hepatite C. Essa investigação é mandatória nos grupos de risco, mas está disponível para todas as pessoas. Os grupos de risco incluem pessoas que alguma vez utilizaram ou usam drogas injetáveis ou cocaína inalada; que receberam transfusões sanguíneas ou derivados antes de 1994; que já fizeram hemodiálise; trabalhadores da área de saúde, de emergências médicas e de segurança pública após contato com sangue contaminado; crianças nascidas de mães com hepatite C; pessoas que já receberam medicações injetáveis com seringas e agulhas reutilizáveis; que receberam transplante de órgãos ou tecidos; portadores do vírus HIV; que tenham feito tatuagens ou piercings em locais que não estão de acordo com a vigilância sanitária; com parceiros sexuais de longo tempo infectados com hepatite C ou com múltiplos parceiros sexuais ou com histórico de doenças sexualmente transmissíveis. Globalmente, 67% das pessoas que injetaram drogas estão infectadas pela hepatite C; em alguns países pode chegar a 97%. E mais de 70% dos casos de hepatite C ocorrem em pessoas com mais de 40 anos.
A relevância do tema levou a Organização Mundial de Saúde a adotar o dia 28 de julho como o Dia Mundial das Hepatites. O intuito é conscientizar a população a respeito da importância da questão e da necessidade de realizar os testes diagnósticos. Hepatite C, ao contrário do que muitos acreditam, tem cura e o seu tratamento apresentou uma notável evolução nos últimos anos, passando de um tratamento de longo prazo, com medicação injetável e com uma série de efeitos colaterais para um tratamento muito mais tolerado, via oral e por um período mais curto. Nessa nova era do tratamento da hepatite C  houve  elevação na taxa de cura de 40-50% para 85-95%, de acordo com as características do vírus e o estágio da doença. Nem todo mundo com hepatite C necessita de tratamento, mas todos devem ser avaliados e acompanhados.
Lembre-se que a hepatite C pode afetar qualquer um. Não existe vacina, portanto, previna-se reduzindo os riscos através de: não compartilhamento de escovas dentais, lâminas de barbear e alicates; não compartilhamento de utensílios para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos, canudos…), pratique sexo seguro, use preservativo e exija material descartável ao realizar tatuagens e piercings.
É importante frisar que tanto o diagnóstico quanto o tratamento estão disponíveis na rede pública e privada de saúde. Solicite os exames ao seu médico.

Cassia Sbrissia Silveira é hepatologista do Instituto para Cuidado do Fígado