Fotos: Bárbara Magalhães – Carro alegórico questiona o papel heroico dos bandeirantes “O sangue retinto por trás do herói emoldurado”

Histórico. Não há definição melhor para o desfile campeão da Mangueira este ano. Na contramão das outras escolas de samba o carnavalesco Leandro Vieira, em seu quarto desfile oficial, apresenta um enredo político e conquista pela segunda vez o título de campeã do carnaval carioca (a primeira foi em 2016 – na sua estreia com enredo em homenagem à Maria Bethânia). O resultado fez justiça. Nos dois dias de desfile nenhuma outra escola empolgou tanto a avenida Marques de Sapucaí quanto à Mangueira. E isso aconteceu não somente pelo fato da agremiação ser uma das mais populares no carnaval, mas, sim pelo excepcional samba-enredo que conta a história do Brasil subvertendo os heróis dos livros pelos heróis populares – que foram “esquecidos na versão oficial” dos historiadores. Como resistir a esses versos?

“Brasil, meu dengo/ A Mangueira chegou/ Com versos que o livro apagou/ Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento/ Tem sangue retinto pisado/ Atrás do herói emoldurado/ Mulheres, tamoios, mulatos/ Eu quero um país que não está no retrato“.

E por incrível que pareça a Mangueira revelou ao Brasil esse país que não está no retrato oficial. O enredo “História pra ninar gente grande” foi contado em 24 alas e cinco alegorias. Em entrevista após a confirmação do título o carnavalesco Leandro Vieira comentou: “Esse enredo é do tamanho da coragem dessa gente. Viver e resistir é um ato de coragem”. E “essa gente” que ele se refere são as mulheres, os negros e os índios, as maiores vítimas da história não oficial que foram estampadas numa enorme bandeira verde e rosa no encerramento do desfile.

Para chegar ao vigésimo título do carnaval carioca a Estação Primeira de Mangueira deu liberdade total ao carnavalesco. Em um momento político delicado com muita intolerância nas discussões, a Mangueira não teve medo de falar de Marielle Franco (vereadora negra assassinada há um ano – um crime sem solução até hoje), ou de desqualificar a importância de heróis nacionais como o patrono do exército Duque de Caxias – o “pacificador”, da Princesa Isabel e de Pedro Álvares Cabral. Está no samba: “Deixa eu te contar/ A história que a história não conta/ O avesso do mesmo lugar”. Perfeito.

O desfile e o enredo da Mangueira de 2019 deveria servir como cartilha para as aulas de História no Brasil. Questionar a “versão oficial” e mostrar uma história até então desconhecida da maioria do povo brasileiro. Após o título Leandro Vieira mandou um recado para o presidente Bolsonaro que twitou uma cena pornográfica de um bloco de carnaval: “O carnaval é a festa do povo. O carnaval é cultura popular. O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso. E ele deveria mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira”.


Membros da velha-guarda no carro abre-alas da Mangueira

 

Ala Cunhambebe homenageia indígenas que lutaram contra portugueses

 

Homenagem ao abolicionista cearense Luís Gama

 

A história não contada nos livros descontrói a imagem de “heróis oficiais”.

 

O “Pacificador” Duque de Caxias é visto sob outro ângulo

 

A vereadora assassinada Marielle Franco é lembrada no encerramento do desfile


Nota

Foto: Bárbara Magalhães

O Folia Tropical no setor 6 da Sapucaí

Desfile das campeãs no meio da avenida
O melhor local para assistir o Desfile das Campeãs é o camarote Folia Tropical. Com localização privilegiada, bem no meio da avenida, ele conta com três andares e serviço de buffet e open bar incluído no valor do ingresso – que está em torno de R$1.700. Isso dá direito a uma camiseta exclusiva, transfer de ida e volta ao sambódromo e até a utilização de um espaço de beleza. No camarote quem compra os convites circula ao lado de celebridades convidadas e ainda pode assistir um pocket-show da cantora Gal Costa no intervalo do desfile. (RB)
Serviço:
Ainda há ingressos para o desfile das campeãs do grupo especial. Eles podem ser adquiridos pelo site www.foliatropical.com.br ou pelo televendas (21) 3202-6000.

ORDEM DE DESFILE DO GRUPO ESPECIAL

SÁBADO (09/03)

  • Às 21 h – Acesso – Estácio de Sá
  • Entre 22h05 e 22h20 – 5ª – Salgueiro
  • Entre 23h10 e 23h40 – 4ª Portela
  • Entre 0h15 e 1 h – 3ª – Vila Isabel
  • Entre 1h20 e 2h20 – 2ª – Viradouro
  • Entre 2h25 e 3h40 – 1ª – Mangueira