Muitos estudantes têm verdadeiro pavor da matemática, e por isso tendem a considera-la desnecessária, injustiça que deriva geralmente de experiencias mais ou menos desagradáveis motivadas por falta de atenção e paciência para a aprendizagem. 

A matemática tem inúmeras subdivisões, para finalidade de estudo, pois muito poucos conseguem pleno domínio de todas suas abordagens, algumas delas altamente especializadas e utilizadas em trabalhos que envolvem tecnologia complexa ou ciência de ponta, mas entre os itens mais presentes em provas ou exames, como Enem ou concursos públicos, encontramos alguns essenciais para o cotidiano, como: razão e proporção, juros e porcentagens, figuras geométricas, estatísticas elementares, correta leitura de gráficos e tabelas, que na verdade descrevem comportamentos corriqueiros de fatos relacionados ao mundo do trabalho, da saúde, dos fenômenos climáticos e outros que podem interferir para melhor ou para pior do dia-a-dia das comunidades. De certa forma, avaliamos se raciocínios básicos que permitiram a evolução humana encontram-se presentes na formação de nossos jovens e crianças, dado que a origem dos primeiros pensamentos matemáticos remonta ao tempo das cavernas; seres humanos precisavam saber quantidade de alimentos, animais e pessoas: o conceito de número, iniciado com a simples percepção de semelhanças e diferenças, foi sendo aprimorado por meio de contagens primitivas com uso de ossos e pedras, registrados através de pinturas nas cavernas, ossos de animais e outros objetos que auxiliassem a lembrança, e isso com certeza devem ter sido os primórdios do que chamamos arte rupestre.

O pensamento ou raciocínio matemático surge nas primeiras interações das crianças com objetos do mundo físico, pois é inerente classificar objetos quanto a forma, cores, tamanhos, suas relações e chegar a algumas conclusões, perceber intuitivamente as operações de soma ou subtrações, as primeiras experiências de analisar quantidades.

A matemática coincide, portanto, com o processo de evolução da humanidade. O desenvolvimento e aprimoramento das noções matemáticas ocorreram de maneira gradual e perceptível, com a constante necessidade de cada período histórico. Fomos aprendendo e registrando operações aritméticas por motivos utilitários: registro de enchente e áreas agriculturáveis no Egito Antigo, que demandavam estudo de figuras geométricas, inventários de estoques de comida e bens duráveis como flechas, facas e outros materiais, noções elementares de proporções inclusive com finalidades estéticas – volumes e quantidade de cada componentes de tintas para pinturas corporais e de paredes; culturais, como acervo de joias, peles, instrumentos musicais, e outros; formativas de raciocínio, como métodos de resoluções dos problemas mais comuns a uma determinada comunidade, facilitadores de memorização como ábacos e outros equipamentos precursores dos modernos computadores.

E assim, avançamos sociologicamente em todos os aspectos com a ajuda inestimável dos problemas resolvidos, as soluções genéricas que poderiam servir em outras oportunidades, e até uma ciência de previsão de fatos futuros, mistura de observação de astros – volta das estações do ano, dos ciclos lunares, das estações mais secas ou mais chuvosas, e o início de uma capacidade dedutiva.

Progredimos de uma percepção “mágica” do universo para melhor compreensão de suas leis e periodicidade, para o domínio da produção de alimentos e desenvolvimento de uma cultura através deste processo de contagem, registro e invenção de instrumentos para auxílio à memorização, que foram essenciais e apenas possíveis  pelo que hoje chamamos matemática.

Num momento em que as áreas de saúde e informática parecem cada vez mais promissoras no mundo do trabalho, mesmo com a ciência sofrendo ataques contínuos e grandes cortes financeiros na pesquisa, é importante lembrar que o progresso da humanidade veio do estudo, das pessoas que não pouparam dedicação para evoluir o conhecimento de cada época e permitir melhor qualidade de vida para todos.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.