BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, elogiou a capacidade de Eduardo Villas Bôas de conter ímpetos antidemocráticos entre militares em discurso na cerimônia de passagem de comando do Exército, nesta sexta-feira (11).


“O general Villas Bôas é reconhecido pelo seu carisma de líder equilibrado, mas grandes feitos não podem ser medidos por olhos rasos”, discursou Azevedo. 


“A maior entrega deste comandante é o que ele conseguiu evitar. Foram tempos que colocaram à prova a postura do Exército como organismo de Estado, isento da política e obediente ao regramento democrático”, afirmou o ministro.


“Bandeira esta [que serviu] como parceria do cotidiano militar e induziu a disciplina consciente como modelo de comportamento”, prosseguiu Azevedo. Villas Bôas, ele concluiu, “fez do Exército solução, não parte do problema”.


O general Edson Leal Pujol assumiu o comando do Exército depois de quatro anos da gestão de Villas Bôas, que passou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e uma crise política e econômica severa.


Uma intervenção militar foi aventada por membros do Exército como o general Hamilton Mourão, que se tornou vice do presidente Jair Bolsonaro. 


Ambos estavam presentes à solenidade, acompanhados de membros do primeiro escalão do governo, como o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e Sergio Moro, ministro da Justiça.


Só discursaram Azevedo e Villas Bôas, que, com uma doença degenerativa, delegou ao mestre de cerimônias que lesse o seu pronunciamento. O agora ex-comandante deu algumas palavras por conta própria ao início e ao final da cerimônia, realizada no Clube do Exército, em Brasília.


Emocionado, Villas Bôas teve suas lágrimas enxugadas por um auxiliar. Bolsonaro o abraçou mais de uma vez. A primeira-dama, Michelle, sentada ao lado de Cida, mulher do ex-comandante, ambas fora do palco, cumprimentou-o depois do encerramento.


Em sua despedida, o general adotou um discurso duro. Segundo ele, que evitou citar nomes, a eleição de Jair Bolsonaro trouxe uma “liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar” no país.


“O senhor traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar, embotaram o discernimento e induziram a um pensamento único e nefasto”, disse.


Disse ainda que o novo presidente fez com que despertasse no país um sentimento patriótico “há muito tempo adormecido”.


Villas Bôas elogiou Moro, ex-magistrado que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por ter sido “protagonista da cruzada contra a corrupção ora em curso”.


No ano passado, nas vésperas do julgamento do petista no STF (Supremo Tribunal Federal), o general afirmou que repudia a impunidade. A frase foi criticada por ter sido interpretada como uma pressão sobre a Suprema Corte.


Ainda em seu discurso, Villas Bôas disse que enfrentou no período de seu comando “descontinuidade dos repasses orçamentários” e agradeceu os ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), responsáveis por sua permanência no posto.


“Um Exército democrático, apartidário e inteiramente dedicado ao serviço da nação, que desenvolve a sua estabilidade em ambiente respeitoso, humano e fraterno”, disse.