Franklin de Freitas/Arquivo Bem Paraná

Nos últimos meses, a grande dúvida dos brasileiros tem sido “quando serei vacinado?”. As horas dedicadas para este questionamento se dão porque a imunização representa a esperança de acabarmos com a pandemia da Covid-19 e, também, porque é um assunto em pauta nos noticiários. Entretanto, um ponto que não está sendo discutido, apesar de sua importância, é quantas das doses compradas serão efetivamente recebidas e aplicadas na população brasileira?

Devemos considerar que no caminho entre a compra e a aplicação existe uma complexa cadeia logística que expõe as vacinas a possíveis perdas. Da mesma forma que uma farmácia compra 1 milhão de comprimidos de paracetamol sabendo que seus clientes não os usarão em sua totalidade porque haverá perdas, o Governo deveria saber que não irá aplicar 100% das vacinas compradas.

Legitimando essa preocupação com possíveis perdas de vacinas, temos a recente situação de Igarapé, no Estado de Belo Horizonte, onde houve a suspensão da vacinação contra a Covid-19 após um defeito elétrico nos refrigeradores deixar 229 doses de Coronavac inadequadas para aplicação.

Não são raros os casos de vacinas do PNI (Programa Nacional de Imunização) com perdas superiores a 50%, mas as previsões são de que a campanha de imunização da Covid-19 não atinja tal patamar em perda, pois o principal prejuízo nesses grandes programas é a chamada perda técnica, que acontece porque os frascos das vacinas contêm mais de uma dose e, na maioria dos casos, não há esse exato número de pessoas para serem vacinadas durante o período entre a abertura e o vencimento dos frascos. No caso da Covid-19, a alta demanda pela vacinação deve reduzir tais perdas técnicas.

Mesmo assim, ainda é preciso se atentar às perdas físicas, que são as ocasionadas por avarias, vencimentos e má refrigeração, sem contar os furtos, desvios, falhas na expedição e recebimento, entre outras. As perdas físicas atingem cerca de 3% a 5% do total de vacinas, comprometendo a entrega das doses à população.

Por isso, é extremamente importante que haja orientações acompanhadas de rígidos controles e registros de vacinas, desde o recebimento, distribuição até a aplicação, garantindo o registro de eventuais perdas. E, claro, o balanço de consequências e as devidas penalidades precisam ser aplicadas. Há duas frentes de ações que podem ser implementadas para reduzir as perdas:

1. Estruturação de um Programa de Gestão e Prevenção de Perdas, considerando três aspectos:

1. registro das informações de compra, distribuição, aplicação (primeira e segunda dose) e perdas das vacinas (tanto as desconhecidas quanto as identificadas);
2. análise diária dos números de perda, para identificação e correção das suas causas;
3. promoção da cultura de prevenção de perdas, ou seja, comunicação constante sobre os impactos e as ações para redução de perdas;

2. Além do programa, a segunda frente de ação está relacionada ao uso de tecnologias para essa redução de perdas, como o monitoramento de temperatura, que pode gerar alertas caso exista risco de perda por armazenamento fora das recomendações dadas pelo fabricante, possibilitando ações preventivas, como a transferência das vacinas. Outro exemplo do uso de tecnologias nesta frente é a utilização de controles operacionais em aplicações e dispositivos móveis para melhorar os processos de recebimento e expedição de vacinas, controle de armazenamento e garantia de aplicação das doses, possibilitando rastreabilidade do início até o fim do processo.

Implementando tais iniciativas e tecnologias poderemos reduzir possíveis perdas de vacinas e mais rapidamente sanar essa dúvida que está afligindo milhões de brasileiros: cadê minha vacina?

*Thiago Guimarães e Pedro Barra são gerentes seniores de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.