O Brasil é conhecido por ter uma grande e muito variada composição étnica em sua população. Desde os nativos, que já moravam aqui quando ele foi colonizado, até os vários imigrantes, todos colaboraram para que ele fosse um lugar plural. E como é comum em um lugar onde há muitas culturas, a religião acaba sendo também muito diversa, já que cada imigrante traz consigo a sua religião.

A religião sempre fez parte da história da humanidade, desde o início da civilização. O homem sempre cultuou, acreditou e teve fé em um Deus, divindades ou mesmo teve e tem seus ritos e crenças, entre tantas expressões religiosas, credos e doutrinas. A arte, a música e a literatura são provas de como a religião sempre esteve presente e inspirou os inúmeros setores da sociedade.

O desafio, em um país com tanta diversidade como o Brasil, é justamente a convivência, que nem sempre é harmoniosa, e o diálogo que, dependendo de quem está no outro lado, transforma o ato em uma missão impossível. Conviver e dialogar parece inconcebível para algumas pessoas, principalmente porque muitos insistem em impor a certeza da verdade da sua crença, como se apenas o seu ponto de vista fosse verdade. Por mais que sua crença venha a ser verdadeira, acredito que impor essa verdade não é o caminho.

Não existe ponto de vista, por melhor e mais verdadeiro que seja, que tenha o poder de convencer alguém com orgulho e arrogância. É apenas com diálogo, respeito e humildade que falaremos da nossa verdade, sem obrigar alguém a crer.

É sempre bom frisar que dialogar, conhecer ou entender a religião do próximo não é acreditar e muito menos aceitar aquela crença, mas sim entender os diversos movimentos religiosos que fazem parte da cultura de um país como o nosso. É possível se informar e conhecer uma religião e seus ritos, de forma imparcial. E se for para discordar, que seja com respeito, apenas isso. A nossa obrigação não é aceitar tudo, mas respeitar sempre.

Vivemos em um país rico e com muita liberdade. Por isso, não podemos aceitar imposições ou extremismos. Entender que todos cultuam e acreditam de sua forma é defender uma prática que é direito de todos. Por isso, o diálogo deve ser o ponto de partida e não uma imposição.

Quando eu não aceito a religião do próximo e defendo a ideia de que aquela crença não deve ter espaço, estou sendo contraditório, por morar em um país que é laico, que não tem uma religião oficial e que proporciona liberdade a todos.

Defender a liberdade do próximo em cultuar e seguir o credo que melhor lhe agrada é defender a liberdade de todos os cidadãos. É construir um ambiente onde a imposição não tem um lugar para se estabelecer e onde o ser humano pode viver com a crença e a religião no qual acredita.

(*) Guilherme Augusto de Carvalho é Bacharel em Teologia, Especialista em Filosofia, Ciências da Religião e Ensino Religioso. Professor da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER