Roma fica sempre lotada na época da Páscoa. É início da Primavera, a Páscoa é a data maior da cristandade, a vida renasce. Neste 2011, Roma ficou ainda mais procurada: é que no dia 1º de maio começam as cerimônias de beatificação do papa polonês João Paulo II. Se Roma é lugar de peregrinação, agora é Wadowice , na Polônia, que será o ponto de convergência do mundo católico. A pequena cidade próxima de Cracóvia se prepara: a casa onde João Paulo II morou quando respondia pela paróquia local, ao lado da igreja, está em reformas. Vai abrigar o museu, que hoje funciona modestamente na antiga residência de sua família , retratando a vida do homem que será, em breve, chamado santo.

Toda a região de Malopolska está marcada pelos passos e das lembranças de João Paulo II. Em Cracóvia, são muitos os lugares ligados ao papa: o palácio do arcebispado, o santuário de Lagiewniki, os túmulos de seus pais no cemitério Rakowicki, os campos de Blonia, onde rezava as missas papais. Mas é em Wadowice, cidade natal, que agora os peregrinos estarão rezando junto da Grande Praça , o apartamento da família Wojtyla, a basílica da Apresentação ‘a Virgem, onde o menino Karol foi batizado. Na rota de peregrinação, o santuário e caminhos do Calvário de Kalwaria Zebrzydowska, lugares de Malopolska que Karol Wojtyla costuma visitar com freqüência; Raciborowice, perto de Cracóvia, onde o jovem padre passava férias. Na paróquia com sua pequena igreja gótica, fazia estudos dos escritos de São Thomas. Como vigário,  começou pregação em Niegowic, distante 24 quilômetros de Cracóvia.

Homem forte e saudável, Karol Wojtyla gostava de escalar montanhas e fazia peregrinações a Ludzmierz, distante 4 quilômetros de Nowy Targ, no santuário de Nossa Senhora Rainha de Podhale. Em Zakopane o santuário de Nossa Senhora de Fátima, na rua Krzeptówki, foi celebrada missa papal e hoje guarda como lembrança um monumento ao sumo pontífice. Em Stary Sacz, nos campos de Blonia, não longe do convento das Clarissas, é conservado o altar diante do qual o papa rezou missa em 1999.

Os caminhos de Karol Wojtyla estão também nos montes de Gorce, calçados de pedras,  que levam de uma cabana de  pastores até uma fonte e ao cume, que hoje tem o nome do papa, em Beskid Maly,  com trilhas que atravessam os Carpatos. Para visitar a casa natal de João Paulo II em Wadowice há horários especiais: de outubro a abril, abre de terça a domingo  das 9h ao meio dia e das 13 h ‘as 16 horas. De maio a setembro, de segunda a domingo, das 9h ‘as 13h e das 14 ‘as 18 horas. A entrada é grátis, mas todos deixam os chamados dons voluntários. Uma lojinha vende artigos religiosos, o que ajuda a manter a casa. Para os Caminhos do Papa, veja em www.cotg.krakow.pl

A PEQUENA WADOWICE — Com uma população de apenas 19 mil habitantes, Wadowice fica no vale do rio Skawa, e foi fundada no século 13. A primeira menção escrita da cidade data de 1327. Foi  originalmente propriedade do Ducado de Oswiecin e incorporada ‘a Polônia em 1564. A Basílica da Virgem Maria era do século XV, mas foi destruída em um incêndio. Memórias da infância e juventude de Wojtyla estão ligadas ‘a igreja. A casa número 7 da rua Kóscielna foi onde o futuro para João Paulo II nasceu, em 18 de maio de 1920. Wojtyla deixou a cidade para estudar em Cracóvia, quando completou os estudos secundários, em 1938. Cartas de João Paulo II são importante referência de sua vida inteira, sempre lembrando da terra natal. Como pontífice, Karol Wojtyla visitou Wadowice três vezes: em 1979,. 1991 e 1999. A cidade faz parte do itinerário de Benedict XVI. Quando João Paulo II completou 25 anos de vida religiosa, em 16 de junho de 1999, disse na Homilia: Foi na igreja de Wadowice, e no seu batistério, que me juntei a Cristo e onde recebi minha primeira comunhão e fui coroinha. Onde agradeci a Deus pelos 25 anos de minha consagração como padre…  Hoje dou graças a Deus nas portas desta igreja onde começaram a escola, os estudos, o teatro e a vida eclesiástica.

SABORES REGIONAIS — No final de sua vida, o papa João Paulo II sofria da doença de Parkinson, que faz esquecer fatos recentes, lembrando o doente apenas do passado. Em uma de suas visitas a Wadowice, o papa voltou a ser Karol Wojtyla, deixou sua preleção escrita de lado e relembrou sua juventude, quando era ator de teatro, esportista, jovem. E não esqueceu do  kremówka wadowicka, um folhado recheado de creme, que passou a ser destaque em todos os restaurantes, cafés e  lanchonetes da cidade. Você pode provar o melhor deles aqui mesmo em Curitiba, na Confeitaria das Famílias, onde foi lançado por um espanhol e mantém a tradição até hoje. Se quiser provar alguns dos pratos regionais da região de Malopolska, coloque no cardápio do chleb pradnicki, que no passado era reservado ‘a mesa dos reis; o kielbasa lisiecka ou o  kielbasa krakowska, uma espécie de lingüiça e salame  bem temperado. Os queijos preparados com leite de ovelha da montanha são o oscypek defumado, o bryndza salgado ou o bundz.  Zürek é uma sopa de farinha azeda ou queimada com vinagre, o barszcz é a famosa sopa de beterrabas. Sucesso sempre é o pierogi, conhecido em Cracóvia desde a Idade Média. É uma espécie de ravióli recheado com batata e ricota, que os curitibanos encontram nas barracas das nossas feiras livre ou nos restaurantes típicos da cidade. Também pode ter recheio de repolho azedo ou carne, com molhos de cebola frita, cogumelos com nata  ou lingüiça. A carpa de Zator é  especialidade conhecida desde a época do rei Boleslas Krzywousty, do século XII. Para arrematar, a okocimskie piwo, cerveja de mais de 150 de aprovação, e acabar com goles da sliwowica lacka, espécie de aguardente feita com ameixas, que os poloneses dizem ser a bebida que deixa as bochechas vermelhas, por causa do alto teor alcoólico.

MALOPOLSKA É TERRA DE SANTUÁRIOS — São muitas as ermidas, belas igrejas e quadros célebres por milagres a eles atribuídos, que movimentam a região com turistas e peregrinos. Durante séculos, sempre deram aos habitantes locais a esperança de melhores dias, confirmando fé e religiosidade. Historicamente e culturalmente, são lugares que guardam inestimáveis monumentos da cultura e da identidade polonesa. O culto mais característico da região é o da Virgem. Santuários de Notre Dame ( o das Carmelitas na Piasku de Cracóvia ou o de Kalwaria Zebrzydowska) abrigam ícones milagrosos de Nossa Senhora. Os Mistérios da Paixão também são importantes, como os de Kalwaria Zebrzydowska, que atraem visitantes e peregrinos aos milhares, todos os anos. Repetem a paixão de Cristo, como acontece na Fazenda Nova, Nova Jerusalém, no interior de Pernambuco. Há também um grande número de lugares de culto associados aos santos e bem aventurados originários de Malopolska:  a cidade de Stary Sacz, ligada ‘a santa Kinga; Lipnica Murowana, terra do santo Simon e das irmãs Ledóchowski; Szczepanów, perto de Brzesko, lugar de nascimento de Santo Estanislau, patrono da Polônia; Wola Radwoska, perto de Tarnów, onde viveu e morreu em martírio Karolina Kózkówna. Outros santuários, principalmente Tyniec e Bielany, foram fundados junto a conventos, preservando a santidade dos lugares religiosos.

POLONIA CURITIBANA — Aproveite a Páscoa para conhecer costumes poloneses conservados em Curitiba e no Paraná pelos imigrantes. O Parque João Paulo II, perto do Centro Cívico, faz a festa, com danças, trajes típicos, visita ao museu nas casas de madeira transportadas do interior para a capital, e muitos pratos da estação. Se preferir um ambiente mais sofisticado, reserve mesa no Durski. No Domingo de Ramos é tradição na Polônia criar os ramos de Páscoa, com flores secas e capim. Em Lipnica Murowana é realizado um concurso desde 1958, quando são escolhidos os ramos mais bonitos e coloridos. Alguns chegam a ter  30 metros de altura. No mesmo dia em Cracóvia, os rapazes cobrem o rosto com graxa e usam um chapéu pontudo, para recolher dinheiro. São os chamados Pucheroki. Siuda Baba é uma feiticeira que ataca as jovens na segunda  feira de Páscoa e também recolhe dinheiro. É costume em Wieliczka e Lednica Górna. Isso você não vai encontar no Parque João Paulo II, mas poderá comprar na loja de artigos típicos e artesanato polonês, boas lembranças. E não esqueça: o papa esteve aqui.