Conhecido como “The Happy Slam”, o Aberto da Austrália começará nesta segunda-feira (noite deste domingo, pelo horário de Brasília) com dificuldades para manter a fama de o mais feliz dos Grand Slams, principalmente pelo bom tratamento dado aos tenistas. A tradicional competição enfrenta cobranças e preocupações em razão da má qualidade do ar, em razão dos incêndios no país, e a insatisfação dos tenistas que jogaram o qualifying diante da fumaça que alcançou Melbourne na semana passada.

A situação difícil vivida pela Austrália atingiu seu auge no quesito esportivo na terça-feira. Logo no primeiro dia do quali, após seguidas demonstrações de preocupação por parte dos atletas, a eslovena Dalila Jakupovic sofreu uma crise de tosse em quadra. Ela caiu de joelhos na quadra e abandonou sua partida. “Eu simplesmente não conseguia respirar mais e caí no chão”, disse a tenista.

Em seguida, tenistas como o local Bernard Tomic e a canadense Eugenie Bouchard afirmaram ter dificuldade para jogar suas partidas. O tenista da casa pediu atendimento médico porque estava com problemas para respirar. Além disso, um boleiro passou mal. A badalada Maria Sharapova, por sua vez, interrompeu um jogo de exibição pelo mesmo motivo.

Preocupada, a organização do Aberto da Austrália interrompeu treinos e adiou o início dos jogos do quali nos dois jogos seguintes. Mas isso não evitou as críticas. A mais dura delas veio do britânico Liam Broady. O atual 234º do ranking disse que tenista do quali são tratados como animais. “O e-mail que recebemos da ATP e do Aberto da Austrália foi um tapa na cara, dizendo que as condições eram ‘jogáveis’. Eles estão sãos?”, questionou.

Sobrou até para Roger Federer e Rafael Nadal, ambos membros do Conselho dos Jogadores da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais). Eles foram criticados pelo canadense Brayden Schnur por não atuarem em favor dos jogadores que disputaram o quali em condições adversas. “Roger e Rafa são um pouco egoístas ao pensar em si mesmos e em suas carreiras. Não estão pensando no esporte ou tentando fazer o que é bom para o tênis”, disse o 103º do mundo.

O clima no torneio só melhorou na sexta-feira, quando a organização apresentou aos tenistas sua política para enfrentar a má qualidade do ar, a ser medido diariamente numa escala de 1 a 5. O número 1 significa “boas condições de jogo” e o 5, ambiente inadequado que poderá causar até a suspensão dos jogos.

“A qualquer momento o árbitro pode decidir suspender, manter ou retomar o jogo de acordo com esta política e em absoluta discrição”, informa a organização, em comunicado. Nas três quadras com teto retrátil, os jogos serão interrompidos para que sejam cobertas, sendo retomados assim que a qualidade do ar estiver abaixo do nível 5. Quando se decidir pela retomada de uma partida, os tenistas terão 30 minutos para voltar à quadra.

A escala vai se basear na análise científica do que é chamado de “classificação de partículas finas”, as mais perigosas em suspensão no ar quando há incêndios. “Quanto menor a partícula, mais tende a penetrar profundamente no pulmão e nas vias aéreas. E isso causa sintomas respiratórios, como falta de ar. No limite, a falta de ar pode causar até um quadro de pneumonia e infecção”, explica a pneumologista Suzana Pimenta, ao Estado.

“No caso dos atletas, os sintomas são piores porque, quando estão em atividade, apresentam frequência respiratória maior. Assim, vão inalar maior quantidade de partículas”, afirma a especialista. “A absorção de partículas causa alterações no equilíbrio do pulmão. Altera a acidez das vias aéreas e a produção de muco, que fica mais grosso e é mais difícil de ser eliminado. As células pulmonares, inclusive as de defesa, acabam tendo mais dificuldade para funcionar.”

Funcionário da Federação de Tênis da Austrália, que organiza o Grand Slam, o brasileiro André Sá minimizou as reclamações dos atletas. “Não houve jogo do quali fora das condições adequadas. Sei que era difícil argumentar, porque o ar estava embaçado nas ruas, mas as medidas usadas pela organização apontavam condição boa para jogar”, disse ao Estado o ex-tenista.

“Agora as condições estão praticamente perfeitas. A chuva dos últimos dias limpou o ar. A visibilidade e a qualidade do ar estão dentro dos padrões”, explica Sá, que está em Melbourne. No entanto, ele admite que é difícil fazer previsões para os primeiros dias do torneio. “Vai depender do vento. Não dá para controlar. Temos previsão de chuva para segunda e terça e isso deve ajudar mais ainda. De qualquer jeito, a organização colocou médicos à disposição, principalmente para quem tem problemas respiratórios.”

FAVORITOS – Finalistas no ano passado, Rafael Nadal e Novak Djokovic são os principais candidatos ao título, e não somente por serem os líderes do ranking. O número 1, da Espanha, e o número 2, da Sérvia, mostraram que seguem em grande fase na ATP Cup, nova competição por equipes do calendário, também disputada na Austrália, nos primeiros dias do ano.

Na final, os sérvios foram campeões, com direito a um triunfo de Djokovic sobre Nadal por 2 sets a 0. Com amplo domínio, os dois tenistas mostraram que a temporada 2019 ainda não acabou e que a nova geração, encabeçada pelo russo Daniil Medvedev e pelo grego Stefanos Tsitsipas, terão que suar para desbancar os veteranos. O suíço Roger Federer corre por fora porque ainda não foi testado neste ano. Ele estreará na temporada justamente em Melbourne.

No feminino, Serena Williams recuperou o status de favorita ao se sagrar campeã em Auckland, na Nova Zelândia, há uma semana. Foi seu primeiro título em três anos. A local Ashleigh Barty, atual número 1 do mundo, é outra forte aposta na competição.

O Brasil terá apenas Thiago Monteiro na chave principal de simples. Mas nas duplas terá Bruno Soares, Marcelo Melo e Marcelo Demoliner.